O jornalista Danton Boatini Júnior colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
As mudanças climáticas têm provocado transformações em diversos aspectos do nosso dia a dia, e não é diferente com a vitivinicultura. Um artigo publicado recentemente na Nature Reviews Earth & Environment por um grupo de pesquisadores apontou que algumas regiões produtoras correm o risco de desaparecer até o final do século, enquanto que outras poderão ser beneficiadas.
O fenômeno pode levar a uma queda de produtividade, menor qualidade da uva e necessidade de adequação nos tratos culturais. Regiões que têm clima quente, como Califórnia (Estados Unidos) e Espanha, já estão sofrendo com aumento excessivo de temperatura, o que ocasiona necessidade de irrigação — que em muitos países não é permitida — e uma mudança no perfil do vinho.
— A uva vai atingir um grau de maturação mais rápido e mais alto, com maior teor de açúcares. E esse açúcar, quando for fermentado o mosto da uva, vai acabar gerando maior teor alcoólico dos vinhos — explica Fernanda Spinelli, delegada brasileira na Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) e diretora da Associação Brasileira de Enologia.
Por isso, segundo Fernanda, a OIV — a "ONU dos vinhos", que engloba 50 estados membros — tem estudado técnicas de desalcoolização da bebida. Em contrapartida, conforme a especialista, outras regiões estão passando a se tornar aptas para a vitivinicultura. Um exemplo citado por ela é o sul da Inglaterra, que tem se destacado pela produção de espumantes.
A forma de mitigar os impactos do clima passa pela utilização de práticas sustentáveis em toda a cadeia produtiva, desde o vinhedo até a adega. Em alguns países, segundo Fernanda, já se observa vinícolas plantando árvores ao redor de vinhedos para que haja uma menor pegada de carbono.
No Brasil, o mapeamento das regiões que podem perder ou ganhar com as mudanças climáticas ainda é algo a ser feito.
— Não estamos tão organizados em termos de informações neste sentido, mas temos tecnologias que podem contribuir com o mundo e com o Brasil em tomadas de decisões do que plantar, onde plantar, o que buscar, tipo de vinho, valor agregado etc — afirma Giuliano Elias Pereira, pesquisador na área de enologia da Embrapa Uva e Vinho.