Em meio ao caos e ao isolamento, as lágrimas deram lugar à gargalhada. Separadas por mais de 8,6 mil quilômetros de distância, a professora aposentada Isolde Grün, de Lajeado, e a filha Taís, gestora de projetos de tradução, que vive no Canadá, foram ao riso quando a mãe disse de onde entrava em contato.
– Falava do galinheiro, que era o único lugar que estava conseguindo sinal. Foi um momento para descontrair, rir um pouquinho. A situação está bem difícil, estamos sem energia elétrica, colhendo água da chuva para tomar banho – relatou Isolde à coluna em mensagem enviada de dentro do galinheiro.
Ela e o marido, o representante comercial Nestor Grün tiveram de deixar o apartamento onde moram, em Lajeado porque as águas chegaram quase ao terceiro andar. E encontraram abrigo na casa de uma tia de Isolde, em São José, no interior do município de Estrela.
Lá, havia dificuldade de contato com o mundo externo. Na sexta-feira, o cacarejar das galinhas fez com que a professora fosse ver o que estava acontecendo no galinheiro. Levou junto o celular:
– Nisso, começaram a pipocar mensagens. Aí que me dei conta que estava com sinal. Consegui falar com o pessoal.
Neste domingo (05), Isolde e Nestor puderam atravessar a pé ponte sobre o Rio Taquari. Foram tomar banho e ver de perto os estragos deixados pela terceira cheia no apartamento em que vivem, no centro de Lajeado.
Ao final do dia, retornaram ao abrigo que os têm mantido seguros desde a última segunda-feira. A casa na linha São José é da tia de Isolde, Erna Fuhr, 80 anos, que abriu espaço para outras pessoas também ficarem. É uma residência de 75 anos.
– A própria tia, que não conseguia fazer ligação para os filhos, nem receber também tomou como referência o galinheiro, agora ela também consegue. Foi uma boa descoberta nossa – relata Isolde.
Sobre o que viu nesse breve retorno a Lajeado, a professora disse:
– Fomos fazer a parte da limpeza do meu apartamento. Olha, é desastroso, uma tragédia. Só imagino as outras coisas. A gente ainda tem um local para limpar. E aqueles que não têm mais nada? Eu não sei o que vai dar dessa região, está devastada. Não resta mais nada. Já tinha dado duas (enchentes), precisava essa terceira? Para culminar nisso.