Os R$ 7,92 bilhões em propostas encaminhadas na Expodireto Cotrijal foram puxados, como de praxe, pela indústria de máquinas agrícolas. O crescimento veio apesar do contexto vivido pelo segmento, de redução nas vendas. Para entender um pouco o comportamento dos negócios alinhavados na feira realizada em Não-Me-Toque, a coluna conversou com o presidente do Simers, Claudio Bier. Ele lembrou que o Rio Grande do Sul vive um momento diferente, após dois anos seguidos de estiagem. E que isso influenciou no ânimo do produtor. Apesar de os preços das commodities terem reduzido, neste ano, o agricultor gaúcho "vai ter produto".
Outro fator que ajuda, na avaliação de Bier, é o ambiente único da feira, com uma empresa literalmente do lado da outra: vantagem para o comprador, que encontra todas as marcas no mesmo lugar. A concorrência também faz com que os vendedores busquem condições diferenciadas para conquistar os clientes.
Confira trechos da entrevista concedida por Bier ao programa Campo e Lavoura, Rádio Gaúcha, neste domingo (10). O áudio completo também está abaixo.
O senhor diria que o que se viu na feira, nos cinco dias, foi um ambiente que está em sintonia com o que o mercado tem sinalizado no segmento de máquinas agrícolas?
Eu fiquei entusiasmado, primeiro, pelo número de visitantes. Venda é momento, e quanto mais pessoas chegam aos nossos estandes, mais possibilidades de negócios existem. Então isso aí é um fato. O segundo é que ano passado estávamos atravessando uma seca. O preço das commodities era maravilhoso, mas o nosso produtor não tinha soja, não tinha milho. Hoje, o preço não está tão atrativo, mas temos essa perspectiva de uma grande safra, em que agricultor voltará a ter o seu produto em abundância, que é a sua matéria-prima, a sua maneira de negociar e fazer dinheiro. Essa foi a grande vantagem da Expodireto, comparando com a do ano passado.
Em conversas na feira, ouvi que os resultados foram diversificados entre as marcas, algumas tiveram alta, outras repetiram e algumas ficaram abaixo da expectativa. E isso se relacionou com o tipo de cultura atendida. O arroz, por exemplo, está com cotações mais valorizadas do que no ano passado. O senhor também tem essa avaliação?
Sim. Tem alguns que ficaram um pouco frustrados, outros falando que repetiram o mesmo valor do ano passado, e alguns outros entusiasmados com as vendas. Então, depende muito do setor. Quer dizer, o pessoal do arroz está colhendo bem, e o preço continua bom, já estava bom, continua bom. O arrozeiro que estava meio encolhido, meio escondido, está voltando às compras. Isso tudo ajuda, colabora para que a gente tenha uma grande venda.
Dos negócios encaminhados na feira, quanto acaba se concretizando, efetivamente? E tem os que fecham a partir do evento, mas fora dele...
Isso é muito relativo. Nas feiras passadas, quando ninguém tinha produto para entregar, 95%, 96 % dos negócios se realizavam. Mas a vantagem que vejo é o seguinte: imagina um vendedor visitar ou levar o nome da marca para 300 mil pessoas, que são pessoas que passam na frente da empresa (estande na feira). Essa é uma das grandes vantagens, tu conseguir chegar a um número expressivo de clientes, ou possíveis clientes, mostrando o produto, as inovações, as qualidades cada vez impressas mais nas máquinas. Além das vendas, todas as feiras são grandes ferramentas de venda para o nosso setor. Todo o expositor, leva em conta o seguinte: se atravessar a rua, (o produtor) entra no concorrente. Então, todo mundo fica de olho no cliente, às vezes dá um descontinho maior, dá uma condição melhor. Isso ajuda muito o comprador.
No pós-pandemia a demanda foi maior do que a capacidade de entrega. Agora, o que se vê é um movimento de retração nas vendas mais de 13% em 2023. Houve empresas dando pausa na produção e demissões no setor. Esse cenário pode ser revertido ou deve se manter, até em função de um estoque que elevado?
Naqueles anos que primeiro faltou componentes e depois o preço da commodities teve muito bom, quem tinha commodities comprou muita máquina. Todas as indústrias aumentaram muito a capacidade de produção. Como não tinha máquina para entregar, todo mundo botava pedido para ter máquinas para vender, mas aí o mercado deu uma freada, se acomodou e hoje todas as nossas revendas têm muito estoque. Além disso, contratamos mais gente, porque tinha o mercado estava pedindo, agora o mercado se acomodou. Antes de (as empresas) desovarem esse estoque, não voltarão a comprar. É uma reacomodação que está havendo na indústria, mas não é nenhum tipo de crise.
O senhor acha que essa readequação, com demissões, é algo que poderá se repetir ao longo de 2024, ou o ajuste na produção que leva ao reajuste no quadro já foi feito?
Acho que foi feito, que não haverão mais demissões em massa. Claro que vão haver aquelas demissões pontuais, que sempre acontecem, e também admissões, mas em pequena escala. Até porque, nossas empresas estão muito no interior do Estado. Cada empresa, às vezes, é responsável por grande quantidade de empregos em uma cidade. A gente tem essa consciência social, além de saber que, depois, para recontratar essa pessoa e treiná-la custa muito caro. Não estamos falando nem no custo da demissão, que é caríssimo, mas você tem depois o custo de treinar a pessoa. O setor de máquinas agrícolas sempre foi muito conservador nesse tipo de operação de demissão. Se a pessoa sai dali, daquela cidade, e vai pra um outro centro maior tentar um emprego, aquela mão de obra não se consegue mais. Temos consciência disso e fazemos um esforço muito grande para segurar a mão de obra treinada e que já está acomodada nas cidades.
Uma das coisas que se falou muito na feira é a demanda do produtor por um ajuste na taxa de juro das linhas de crédito do Plano Safra. Qual a expectativa em relação a essa questão e o quanto isso pode ou não reaquecer o mercado de máquinas?
Estamos fazendo um esforço muito grande, pedindo par o governo. Há poucos dias tive a oportunidade de conversar com o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário. Pedimos que ele viesse até o nosso sindicato aqui, porque haviam grandes rumores de que o governo federal queria trazer máquina da China. O que nós fizemos? Pedimos que viesse aqui, mostramos pra ele. As empresas trouxeram slides, mostraram a qualidade, o tamanho das empresas. Ele saiu daqui convencido, dizendo que não iria trazer máquina da China, porque viu que realmente temos condições e nos prometeu, principalmente para o pequeno agricultor, um juro muito acessível.