Para a Languiru, a habilitação do frigorífico de aves para exportação para a China é mais do que uma porta de mercado que se abre. A inclusão da unidade, localizada no município de Westfália, no Vale do Taquari, na relação das 38 unidades que passam a estar aptas a realizar embarques ao país asiático, traz uma nova chance de recuperação. Com sede em Teutônia e 5,38 mil associados, a cooperativa está desde julho do ano passado em liquidação extrajudicial — o mecanismo que se assemelha à recuperação judicial das empresas. O tamanho exato da dívida está sendo mensurado e deve ser apresentado até maio.
Um destino cobiçado, não só pelo volume comprado, mas também em razão da remuneração para cortes de frango com pouco valor em outros mercados, a China estava nos planos da cooperativa há algum tempo. O processo que culminou com o anúncio do credenciamento, na terça-feira (12), teve dois capítulos importantes nos primeiro dois meses deste ano. Foram duas inspeções virtuais, uma em 17 de janeiro e outra em 28 de fevereiro, antes da habilitação, conta Paulo Birck, presidente-liquidante, que avalia:
— É um importante e competitivo mercado, que paga bem para um nicho de produto, principalmente pés de frango, ponta da asa.
A planta de Westfália tem capacidade instalada para abater até 150 mil aves por dia, mas hoje opera com 80 mil frangos/dia. Parte desse volume é abatido para a JBS, em uma parceria fechada para essa prestação de serviço. Birck explica que no caminho de reestruturação da Languiru, optou-se por focar nas atividades de processamento de frango, de leite e na fábrica de rações.
— Isso eleva o patamar do frigorífico, além de podermos exportar carne de frango da cooperativa, também temos o poder de prestar serviço e esse parceiro igualmente ter o benefício de exportar essa carne — observa Birck, lembrando que a habilitação é para a planta em si, não para a marca.
Um diálogo para que se tenha um segundo turno de abates de frango para a JBS já teve início. Com a capacidade ocupada, um dos efeitos positivos é a diluição dos custos. O frigorífico de suínos de Poço das Antas, parte do portfólio da cooperativa, está em parceria negociada também com a JBS, mas nesse caso, para aquisição. A concretização do protocolo de intenções assinado com o governo do Estado em novembro do ano passado depende da aprovação de um projeto de lei do Executivo na Assembleia.
A proposta tem previsão de ser votada na próxima semana e viabiliza a transferência de saldos de crédito do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) acumulados pelo diferimento do imposto estadual pela JBS. Ou seja, permite creditar uma parcela do investimento a ser feito pela marca companhia.
A partir da decisão dos associados pela liquidação extrajudicial, o primeiro passo, relata o presidente liquidante, foi a lista dos credores. Foi detectado um número de inconformidades de valores nessa relação. No momento, isso está sendo verificado e a previsão é de que até o final de abril a questão seja endereçada.
— Com isso, fechamos o número de dívida total e de credores. A ideia é, em maio, apresentar a lista completa de credores, o saldo, o valor (do débito) e a parte do plano de pagamento. Por isso é importante esses outros negócios estarem andando, para ter esse respaldo — resume Birck.