A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O otimismo voltou a marcar a Abertura Oficial da Colheita da Soja nesta segunda-feira (25), na Agropecuária Richter, em Tupanciretã, depois das últimas duas safras. Mais do que uma perspectiva de recuperação da produção, afetada até então pela estiagem, a celebração ganhou tom positivo neste ano pela possibilidade da safra alcançar uma marca histórica. Secretário adjunto da Agricultura no Estado, Márcio Madalena resumiu o sentimento:
— A frustração das safras nos últimos anos trouxe prejuízos para o município e a região, mas acreditamos que esta deve ser de grande recuperação, com produção recorde.
A estimativa mais recente, divulgada pela Emater durante a Expodireto Cotrijal, é de uma produção de 22,2 milhões de toneladas, 71% a mais do que a safra anterior. Já a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é um pouco menor, de 21,88 milhões de toneladas, 68,04% a mais. Em ambos os casos, seria o maior volume da oleaginosa já registrado no Rio Grande do Sul.
O tom da abertura poderia, no entanto, ser "ainda mais otimista", na avaliação do presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS), Ireneu Orth, com relação à safra.
— Nós vamos quase dobrar a produção, e talvez até dobre. Mas, no final das contas, é uma safra normal — analisa.
Orth se refere à produtividade das lavouras, que não vai chegar ao seu máximo neste ano pelo excesso de chuva no início da safra. As precipitações contínuas, inclusive, atrasaram o andamento do plantio da oleaginosa no Rio Grande do Sul. A Conab estima uma produtividade de 3,28 mil quilos por hectare. Em comparação a safra 2020/2021, não afetada pela seca, é quase 4,5% menor.
O atraso no plantio também preocupa agora a colheita da soja, que não deve seguir em ritmo acelerado, como em anos anteriores. Chegou a 3% da área total estimada, de 6,68 milhões de hectares. Está abaixo da média para o período, de 19%, segundo a Emater.
— Tem soja já colhida, em fase de colheita, em maturação e em enchimento de grãos. Mas a expectativa é de que a chuva siga normal, e não dê calor em excesso (fatores que poderiam atrapalhar o andamento da cultura) — pondera Orth.
Diretor técnico da Emater, Claudinei Baldissera chama atenção ao manejo:
— Nas 59% das lavouras que estão em enchimento de grãos, os produtores precisam estar muito atentos e seguir monitorando a ferrugem, doença importante na cultura da soja. Outro cuidado fitossanitário importante é com relação ao percevejo, que causa grandes danos econômicos nessa fase.
Outro fator de alerta ainda são os preços. A cotação da soja segue em baixa no mercado. A saca de 60 quilos de soja está a R$ 120,09 no Paraná, de acordo com o dado mais recente do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, 22 de março deste ano. Na mesma data do ano passado, o valor era quase 26% maior.
Segundo o presidente da Aprosoja-RS, "a safra pagará as contas do produtor".
— O problema é que tem muitas contas renegociadas das quebras das últimas quatro safras, onde três quebraram. Além disso, o custo daquelas lavouras foi alto, e agora tem que pagar com preço baixo (da soja) —acrescenta Orth.
Baldissera orienta ainda:
— Reservar para uma possível melhora de preço é importante.