A colheita de soja vai aos poucos avançando no Estado. Chegou a 3% da área total estimada e, a partir de agora, deve começar a ganhar ritmo, ficando mais intensa a partir de abril. O percentual tímido, abaixo da média para o período, de 19%, reflete o atraso no plantio. Efeito do excesso de chuva trazido pelo El Niño.
Com a entrada da colheita, cresce a oferta, e a tendência natural é de uma redução nos preços. No Brasil, mesmo com a quebra de safra no Centro-Oeste, o volume será expressivo.
— No RS, em especial, a produção deve ficar muito maior do que em 2023. Regionalmente, isso também pressiona o preço — observa Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da Safras & Mercado.
Esse contexto local intensifica um panorama global. Roque conta que, do final de dezembro para cá, as cotações na Bolsa de Chicago "caíram bastante".
Nas últimas semanas, houve uma recuperação, que corrigiu parte das perdas acumuladas no ano. A variação cambial também ajudou.
No primeiro semestre, no entanto, a expectativa é de um cenário ainda de valores menores. Para se ter uma ideia, o preço da soja em Passo Fundo neste momento é 21% menor do que em igual período do ano passado. Nas cotações em Chicago, a queda é de 16,5%, em igual comparação.
No próximo dia 28, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos apresenta o relatório de intenção de plantio no seu território. A tendência é de um aumento de área da soja, com redução do milho. Se isso se confirmar, a perspectiva é de uma pressão negativa.
— Mais para o final do ano, no segundo semestre, tem de ver como fica a safra americana. Internamente, devemos ter um cenários de prêmios melhor, por ter menos oferta no mercado (com o escoamento da atual safra) — pontua o analista.
Depois de uma sequência de colheitas frustradas pela estiagem, o produtor gaúcho recupera nesta safra, na sua grande maioria, a produção, mas encontra um cenário de preços não tão favoráveis.
— O preço (da saca) de R$ 110, R$ 115 que gira hoje, é ruim. Quem colhe uma safra regular, ou um pouquinho acima de regular, normalmente vai empatar. Se tiver de pagar arrendamento de terra, não vai dar que chega, mesmo colhendo safra de 60 sacas, que seria uma boa média — avalia Ireneu Orth, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-RS).