A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Uma pesquisa feita a partir de dados geográficos aponta que a solução para o enfrentamento da estiagem no Rio Grande do Sul está "dentro de casa". Conduzido pelo geólogo Rogério Porto em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul (Sargs), o estudo mapeou 5,4 mil pontos possíveis para criação de barragens nas principais bacias hidrográficas gaúchas, no Noroeste. O projeto contou com recursos de emendas parlamentares do senador Luis Carlos Heinze, que apresentou os dados nesta terça-feira (27).
A próxima etapa será a divulgação para prefeituras, Emater, sindicatos, agrônomos, Senar-RS, cooperativas, empresas e produtores interessados em armazenar água e irrigar a lavoura. Com pelo menos 5,4 mil barragens, o estudo estima ser possível irrigar 3,2 milhões de hectares no Estado. Atualmente, o Rio Grande do Sul possui apenas 1,15 milhões de hectares irrigados, segundo a Radiografia da Agropecuária Gaúcha 2023. A região mapeada abrange 63 municípios gaúchos, localizados no noroeste do Estado, bastante afetada pelas últimas estiagens.
— Nesse levantamento de pontos de barramento, a gente identifica que qualquer município do Rio Grande do Sul acumula água o suficiente para irrigar um território maior do que o território do seu próprio município — observa o geólogo Rogério Porto.
O projeto foi financiado com R$ 800 mil, recursos do Orçamento da União. Entre as justificativas para a ação, Heinze cita as condições climáticas extremas do Estado.
— No Rio Grande do Sul, sobra água no inverno e falta água no verão. E eu não posso esperar mais 50 anos para o Estado fazer apenas mais seis barragens — referindo-se às seis barragens construídas nos últimos 50 anos no Rio Grande do Sul.
O mesmo trabalho também está concluindo o mapeamento de outros 3,8 mil pontos no Estado, o que resultaria em quase 10 mil possíveis barragens a serem criadas em território gaúcho.
— E o grupo está disponível para outras regiões interessadas em obter essa informação a partir do seu trabalho — salienta Heinze.
O senador também estima que 60% dos 5,4 mil pontos sejam em áreas de até 25 hectares, onde a competência da emissão das licenças fica a cargo dos municípios.
— Isso facilita os trâmites — emenda o político.
A criação de barragens, no entanto, é criticada por ambientalistas. O argumento é de que a estrutura bloqueia, por exemplo, a migração de peixes e outras espécies aquáticas, separando-os dos criadouros e reduzindo o tamanho das populações.