Tem chovido tanto nos últimos meses no Rio Grande do Sul que a necessidade de ter estruturas para a prevenção dos efeitos da estiagem parece algo do passado. Na lista de prioridades, a cíclica escassez de precipitações no território gaúcho se vê diluída nos milímetros que caem causando estragos e enchentes. Pelo menos essa é uma das hipóteses lançadas para explicar uma procura menor do que a oferta em programa do governo do Estado, coordenado pela Secretaria da Agricultura, que subsidia, ou seja, dá um incentivo financeiro à irrigação. Com previsão de encerramento para esta segunda-feira (30), a entrega de propostas foi prorrogada até o dia 17 de novembro.
Lançada junto com a Expointer, a iniciativa oferece até 20% em subvenção, limitada a R$ 15 mil por beneficiário para a adoção ou a ampliação do sistema nas modalidades aspersão, localizada ou por sulcos, além da construção, adequação ou ampliação de reservatórios de água, desde que sejam destinados à irrigação. No total, o Estado disponibilizou R$ 20,2 milhões para essa finalidade. Com base nos valores, a estimativa é de um atendimento de até 1.350 produtores.
Até o momento, no entanto, foram recebidas 250 projetos — 30 deles via Secretaria da Agricultura e 220 via Emater (84 no último estágio de avaliação e 27 com parecer positivo). Sobre as razões para que o número de propostas não tenha chegado ao estimado, o titular da pasta, Giovani Feltes, avalia:
— Estamos vivendo tempos bastante desafiadores na área climática. Muitos produtores estão envolvidos com os fenômenos da natureza (registrados no RS).
Feltes cita fatores de mercado, tanto para o milho grão quanto nas propriedades de leite, como possíveis inibidores de novos investimentos do agricultor. A própria Emater, que auxilia na elaboração dos projetos, acrescenta, tem tido de priorizar os trabalhos com foco nos prejuízos deixados pela variação do clima.
— Ainda assim, os números não são desprezíveis — diz Feltes, sobre as propostas já encaminhadas.
Coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Domingos Velho Lopes também vê nos "seguidos desastres climáticos extremos" um fator que trouxe preocupação ao agricultor gaúcho.
— Pode ser um receio do produtor de tomar mais um crédito em meio a um cenário climático adverso, de incerteza de mercado e algumas inseguranças federais. É uma conjuntura que faz o produtor ficar com mais precaução — completa Domingos.
No mercado, há dúvidas quanto a preços. A soja, principal cultura de verão, está em um patamar de preços inferiores em relação ao ciclo passado. O coordenador da comissão entende que a questão do marco temporal e as ameaças de invasões de terras também pesam na hora da tomada de decisões. Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS), reforça o momento de dificuldade do produtor:
— Ele está descapitalizado. O momento financeiro requer cuidado no investimento, acaba postergando o interesse.
O efeito da chuva intensa, que acaba dispersando a preocupação com a falta de, é outro fator que ajuda a explicar. E eventual desconhecimento do programa, também. O secretário da Agricultura assegura que esse recurso, mesmo que não usado em sua totalidade nessa subvenção, não será perdido.
Para os projetos aprovados, a previsão é de que o pagamento da subvenção (feito após a conclusão) saia todo até o final do primeiro trimestre de 2024.
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Os detalhes sobre os editais podem ser conferidos aqui.