A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O ano de 2023 trouxe um alerta para o setor de carne bovina gaúcha: o risco da dependência brasileira na demanda chinesa. É que, diferentemente do cenário nacional, que registrou alta de 8,1% nos embarques, o Rio Grande do Sul fechou o ano com uma queda de 18% no volume exportado da proteína. Entre os motivos apontados, está o reajuste de preços da China no ano passado.
Segundo o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carne do Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle, o país asiático "percebeu" que era o principal importador da proteína brasileira — hoje, metade do volume exportado de carne bovina é direcionado à China — e resolveu negociar:
— Fez exigências para baixar o preço ao Brasil (o que ocorreu). Só que aí passou a não ser vantajoso para o Estado.
O valor pago pela China pela tonelada da carne bovina gaúcha foi de US$ 6,4 mil para US$ 4,5 mil em um ano, de acordo com Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas em Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS. Isso contribuiu para a queda em volume e receita dos embarques no Estado, que tem apenas três frigoríficos aptos a exportar para a China. Além disso, conforme Moussalle, a exportação da proteína gaúcha não tem tanta "expressividade assim" como em outros Estados.
E a perspectiva para 2024 não deve ser de melhora, acrescenta o dirigente do Sicadergs. Das 28 plantas brasileiras que serão vistoradas pelos chineses nos próximos meses, apenas uma delas está no Rio Grande do Sul. É a Pampeano, de Hulha Negra, que só fabrica enlatados.
A exportação de carne bovina
- O Rio Grande do Sul exportou 105,5 mil toneladas de carne bovina em 2023, volume 18% menor do que o registrado no ano anterior
- Em receita, a queda no Estado foi ainda maior, de 33%, fechando 2023 com US$ 341,7 milhões
- No Brasil, a exportação de carne bovina chegou a 2,5 milhões de toneladas em 2023, volume 8,1% superior ao registrado em 2022
- Em receita, o Brasil registrou uma redução de 17,1%, com US$ 10,8 bilhões
Fonte: Abrafrigo