Chega a cem o número de denúncias recebidas pela Secretaria da Agricultura de suspeitas de deriva de herbicidas hormonais no Estado. Em igual período do ano passado, eram 63. Esse aumento tem reforçado a preocupação de produtores que convivem com o problema há anos. E também faz com que alternativas sejam avaliadas pelos órgãos oficiais frente a esse avanço, após a redução no número de casos em 2022.
Jacenir Freitas Soares, de Lavras do Sul, decidiu nesta safra ampliar a área cultivada com videiras. Investiu R$ 340 mil para a implantação de variedades de uva merlot e cabernet sauvignon vindas da Itália em dois hectares.
A decisão veio depois que, no ano passado, não houve registros de deriva no local.
— Desde 2017 havia tido problema. No ano passado, não. Agora, os vinhedos estão sendo novamente danificados — relata o produtor, que contabiliza perdas na área já produtiva de uvas (que soma oito hectares).
Ele acionou a Secretaria Estadual da Agricultura, e técnicos realizaram a coleta de amostras para exames. Os resultados são aguardados. No município de Jaguari, na Região Central, vitivinicultores também têm relatado suspeitas do problema. João Alberto Minuzzi é produtor e vice-presidente da Cooperativa Agrária São José, que produz vinhos com a marca Jaguari. Tem três hectares cultivados e acionou a secretaria para a coleta de amostras novamente neste ano, mas relata que muitos agricultores não querem mais registrar.
— O problema persiste, mesmo com as normativas. O vinhedo está definhando ano a ano — lamenta Minuzzi.
Desde que as suspeitas de deriva surgiram, há nove anos, ele relata que a produção de uva recebida na cooperativa caiu pela metade.
Diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura, Ricardo Felicetti diz que é provável que até o final desta semana saiam os primeiros resultados das amostras enviadas para exame. Ele avalia que as condições climáticas adversas são a razão para o aumento nas suspeitas em 2023.
— Temos um clima que é um complicador. Esse excesso de chuva causa dificuldades para o produtor de soja semear, e isso acarreta atropelo nas atividades. Algo que sim, teremos de reavaliar nos procedimentos que estamos adotando — afirma.
Desde 2019, normativas regram o uso de herbicidas hormonais no RS. A medida veio após a comprovação, por laudos, de resíduos (sendo o de 2,4-D o mais recorrente) em culturas que não a da soja, onde é aplicado. O produto serve para o controle da buva, planta daninha que ataca as lavouras da oleaginosa. A deriva acontece quando o produto aplicado “viaja” para outras áreas, causando danos.