Seis anos depois de começar a analisar amostras para a verificação de casos de deriva, o Rio Grande do Sul chegou à safra 2022/2023 com 43 propriedades afetadas. É o menor número desde 2019, quando começaram a ser implementadas regras para tentar conter o problema. E levemente acima – com dois estabelecimentos a mais – do que em 2018, primeiro ano das coletas. Em relação à safra 2021/2022, representa uma redução de 40,28%, conforme dados divulgados pela Secretaria Estadual da Agricultura.
Foram recebidas, no total, 55 denúncias, com recolhimento de 58 amostras. A deriva acontece quando um produto químico aplicado em uma cultura “viaja” até outra área de produção, causando estragos. As amostras analisadas foram divididas de acordo com os princípios ativos dos agrotóxicos (veja quadro).
– A queda do número de propriedades é resultado das normativas e do conhecimento do produtor. Hoje, conhece mais essa questão e prontamente formaliza ocorrências. Além disso, teve reforço na prestação de assistência técnica para as aplicações. A própria medida de cadastro de aplicador coloca mais responsabilidade – avalia Ricardo Felicetti, diretor do Departamento de Defesa Vegetal da secretaria.
Neste ano, além de herbicidas hormonais, entre eles o 2,4-D, que somava a maior quantidade de ocorrências, também foram detectados resíduos de glifosato e clomazona.
Representante da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha, Valter Pötter faz uma outra leitura dos resultados. Para ele, a redução tem relação com a não comunicação pelos produtores, que se sentem “desestimulados”:
— Não tem expectativa de haver indenização. Esse número não reflete a realidade. E se for considerar os laudos positivos, é muita coisa. Quem vai indenizar? O Estado foi atrás para ver o tamanho do prejuízo?
Segundo regras federais, até 2026 todos os aplicadores (para qualquer tipo de agrotóxicos) terão de ser cadastrados. Hoje, o RS tem 12.045 aplicadores cadastrados e cerca de 30 mil já treinados. A demanda para o RS é próxima de 60 mil cadastros, segundo a Secretaria da Agricultura.
Saiba mais
- Foram feitas análises de herbicidas hormonais, incluindo o princípio ativo 2,4-D, em 53 amostras. Dessas, 45 tiveram laudo positivo, totalizando 43 propriedades atingidas
- As culturas atingidas por deriva de 2,4-D foram da uva, noz-pecã, oliveira, morango, tabaco, maçã, tomate, trigo, pêssego, milho e laranja
- Das 53 amostras avaliadas, 30 tiveram resultado positivo para o glifosato
- O princípio ativo climazina foi investigado em 18 amostras, com 10 laudos positivos em oito propriedades distintas atingidas
- Também foram identificados nas amostras dicamba (uma ocorrência), Quincloraque, (também uma) Fluroxipir-meptílico (outra ocorrência)