A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Um relatório preliminar da Secretaria da Agricultura sobre casos de deriva no Rio Grande do Sul apontou a presença de herbicidas hormonais em 88% das 101 amostras coletadas para análise nesta safra 2021/2022. O resultado de outras 19 coletas ainda é aguardado para um veredicto final.
As análises estão sendo feitas pelo Laboratório de Análises de Resíduos de Pesticidas (Larp) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Para Ricardo Felicetti, diretor do Departamento de Defesa Vegetal da Secretaria da Agricultura, os resultados até aqui são satisfatórios por indicarem redução no número de amostras analisadas. Foram 120 nesta safra, contra 204 no ciclo passado, com 70% de contaminações identificadas.
– Globalmente, diminuíram as ocorrências no Estado. Os resultados são satisfatórios do ponto de vista do trabalho que temos feito. A divulgação aumentou e os produtores têm condições de fazer as denúncias quando necessário – diz Felicetti.
Já para o produtor Valter Pötter, presidente da Associação dos Vinhos Finos da Campanha Gaúcha e proprietário da vinícola Guatambu, a permanência dos casos enfraquece as denúncias:
– Não houve diminuição de ocorrência. Houve diminuição de denúncias porque o pessoal desanimou. Já são sete anos de deriva e comprovações e nunca um hectare sequer foi indenizado ao produtor prejudicado. Grande parte do pessoal nem fez denúncia – contrapõe.
A deriva do herbicida hormonal utilizado na soja ocorre pelo vento e causa danos em culturas como uva, maçã, erva-mate, oliveiras e outras. A substância provoca atrofia nas plantas, que deixam de crescer e não dão frutos.
– Sem dúvida, a presença é significativa. Mas temos que perceber que está dentro de um universo de 6 milhões de hectares de soja. Se tratando de todo o Estado, temos condições de manifestar que há um trabalho no sentido de mitigar. Naturalmente, temos produtores que tiveram danos grandes e estamos planejando ações fiscais concentradas nessas regiões. Somos sensíveis aos prejuízos e querermos reduzir ao mínimo os casos – diz Felicetti.
A secretaria verificou que os casos de deriva têm como ocorrência principal a não observância dos equipamentos adequados para a aplicação dos agrotóxicos hormonais e das condições climáticas específicas. A velocidade do vento no local, por exemplo, tem impacto direto na ocorrência de deriva.
Grande parte das ocorrências se concentra na região central, como em Jaguari, e em outras áreas onde o cultivo da maçã é mais pronunciado. Como o cultivo das videiras tem abrangência maior em quase todo o território, a secretaria vai voltar os esforços especialmente para os produtores que declaram o seu cultivo como sensível, conforme Felicetti.
Segundo Pötter, na metade Sul, só nas parreiras, o prejuízo estimado é de 15% nas lavouras. São cerca de 7 milhões de quilos de uva produzidos, dos quais 1 milhão está comprometido com a deriva. A posição da associação é de que o uso do 2,4-D seja suspenso “enquanto o Estado não tiver condição efetiva de controlar a deriva”.