No balanço atualizado dos casos de deriva de herbicidas hormonais, sobretudo o 2,4-D, na atual safra, a Secretaria da Agricultura do Estado contabiliza 74 denúncias e 90 coletas em 26 municípios. A cultura com maior número de amostras recolhidas é a da uva (são 51), mas outras entram na lista das suspeitas (veja acima). O dado de comunicações representa redução de 43% nos registros em relação a igual período de 2020. Razão pela qual a pasta e entidades do setor avaliam que houve uma evolução no controle do problema, com a criação de normativas que incluem o treinamento de aplicadores, fiscalização e conscientização.
— Nosso desejo é de que nenhum produtor tenha sua área atingida por deriva. Sabemos que são 74 produtores rurais que fizeram as denúncias e, portanto, tiveram prejuízos, isso não se pode comemorar. Esperamos que este número reduza ainda mais, a partir da análise das amostras — observa Rafael Friedrich de Lima, chefe da Divisão de Insumos e Serviços Agropecuários da Secretaria da Agricultura.
Coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Estado, Domingos Antônio Velho Lopes também entende que o cenário é de melhora e credita a redução registrada até novembro ao trabalho de treinamento, que em 2020 não pôde ser realizado, em razão do cenário pandêmico, e que em 2021 soma 3.097 pessoas capacitadas somente nas ações do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). A formação passará a ser obrigatória a partir de junho de 2022, salvo alguma modificação.
Para quem vem enfrentando o problema, com a comprovação por análises desde 2018, a situação segue sendo crônica. Valter Pötter, presidente da Associação de Produtores de Vinhos Finos da Campanha, pondera que há alguns fatores a serem considerados na avaliação dos números. Um deles, afirma, é o atraso registrado no plantio da soja na região, o que também espicha o período de preparação, que é quando o herbicida é aplicado. Para ele, mais denúncias aparecerão por conta disso.
Outra observação feita pelo dirigente é a de que parte dos produtores está desestimulada e não tem feito registros pela "falta de resultados dos anos anteriores". A isso se adicionou a recente falta de recursos para análise das amostras — situação que foi resolvida ao longo desta semana, com coletas já encaminhadas ao laboratório da UFSM.
— Enquanto existir uma deriva o problema é grave e tem de ser resolvido. Achar que esse resultado é positivo é uma visão simplista — lamenta Pötter.
Chefe do Departamento de Defesa Sanitária Vegetal, Ricardo Felicetti reforça a importância de fazer o registro para que a apuração possa ser feita pela equipe da secretaria. Cita o canal de denúncias aberto via WhtasApp, com resposta ágil. E acrescenta:
— É importante registrar também para fins de estatística, que guiam a elaboração de políticas públicas de médio e longo prazo.
Saiba Mais
- Desde 2018, primeiro ano em que o problema teve comprovação por meio de laudo, essa foi a primeira vez que se teve uma redução de casos no período de agosto a novembro (veja gráfico)
- O número de comunicações teve um salto em novembro: passou de 14 no acumulado até outubro para 74 no acumulado até novembro. Outubro e novembro costumam ser os meses de maior incidência em razão do momento em que é feita a aplicação do herbicida
- As instruções normativas criadas para tentar conter a deriva saíram em 2019. Preveem, entre outras coisas, a necessidade de comunicar a aplicação, o treinamento e o cadastro de aplicadores
Os casos de 2021
Os registros feitos até o momento são nos seguintes municípios:
- Aratiba, Bagé, Cachoeira do Sul, Dom Pedrito, Encruzilhada do Sul, Entre-Ijuís, Erechim, Ibiaçá, Ibiraiaras, Itaqui, Jaguari, Maçambará, Nova Santa Rita, Piratini, Santa Maria, Santana do Livramento, Santiago, Santo Ângelo, Santo Antônio das Missões, São Francisco de Assis, São João do Polêsine, São Sepé, Sarandi, Sobradinho, Vacaria e Viadutos
- As culturas coletadas para análise são: Abóbora, Alface, Caqui, Citros, Couve, Hortaliças, Maçã, Mandioca, Morango, Noz-pecã, Oliveira, Pepino, Pêssego, Sorgo (grão), Sorgo forrageiro, Tabaco, Tomate, Trigo e Uva