Com dificuldades recorrentes, o setor de leite teve um aprofundamento da crise ao longo de 2023. A combinação de consumo enfraquecido e aumento expressivo de importações de lácteos de vizinhos do Mercosul converteu-se em um recuo nos valores recebidos pelo produtor. No acumulado até outubro, esse recuo chegava a 24,8% na média Brasil, calculada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. O R$ 1,9675 representa uma redução real de 4,3% em relação ao mês anterior e a sexta diminuição mensal consecutiva.
Apesar da manutenção da trajetória, a queda vem perdendo força, observa a pesquisadora do Cepea Natália Grigol. No Sudeste e no Centro-Oeste, a expectativa é de chegar a dezembro com estabilidade. Um cenário diferente, no entanto, é verificado no Sul, onde há fatores específicos a serem considerados. Um é o excesso de chuva, que prejudicou a captação e ampliou custos, explica a pesquisadora. O outro, é o estreitamento maior da margem em razão das quedas mais expressivas dos valores pagos na região.
— Isso já trouxe desinvestimento na atividade. É uma safra mais reduzida e observamos as indústrias preocupadas — afirma Natália.
Diante desse contexto, existe uma maior incerteza de preços no Sul. Na média, a perspectiva ainda é de estabilidade, a ser alcançada para os valores de novembro — mas com altas sendo verificadas. A tendência é de estabilização no Sudeste, com viés de queda e, no Sul, de alta.
Fatores de influência importante em 2023 deverão ser modeladores desses movimentos. Trata-se de consumo e importação.
— À medida que se importa produto com um custo muito abaixo do Brasil, força todo o mercado para baixo — pondera Guilherme Portella, presidente reeleito do Sindilat-RS.
Com avanços na casa dos três dígitos, as compras de lácteos de países como Argentina e Uruguai foram a "gota d'água" em um tambo que estava cheio.
— A importação deve continuar sendo a pedra no sapato. Acredita-se que cairá, mas na média seguirá elevada — diz a pesquisadora do Cepea.
De forma geral, 2024 promete menos volatilidade, mas ainda valores mais baixos e crescimento limitado de produção. O fator positivo vem da potencial melhora no consumo, frente à perspectiva de aumento no PIB.