O preço do litro de leite ao produtor acumula uma redução de 28% em 12 meses, na média nacional, conforme boletim que acaba de ser divulgado pelo Centro de Inteligência do Leite da Embrapa. Os R$ 2,05 mapeados (produto entregue em setembro e pago em outubro) representam ainda queda de 8,9% sobre o mês anterior, o sexto recuo consecutivo. No Rio Grande do Sul, o valor médio foi menor, R$ 1,93, e a queda, maior, 11,9%.
O cenário de queda acentuada para o produtor reforça uma preocupação que também deveria estar no radar do consumidor. É verdade que, no varejo, a cesta de lácteos também apresentou redução, mas em percentual menor, de 6,8% no período de 12 meses e de 2,8% em outubro.
Então por que o recuo mais drástico no campo merece atenção de todos? O histórico recente explica. O desestímulo trazido pelos baixos valores podem se converter em novas levas de desistência da atividade que, por sua vez, têm potencial de impacto sobre a oferta.
— As decisões no leite não são de curto prazo. É diferente da alface, por exemplo. O ciclo da pecuária é mais longo, decisões como a de redução no rebanho demoram mais para ser revertidas — explica Jaime Ries, assistente técnico estadual da Emater.
Sazonalidades de produção e demanda sempre existiram, mas 2023 trouxe um ingrediente que intensificou a crise no RS: os preços caíram inclusive durante o período de entressafra, quando há baixa na produção. Entre os fatores apontados como responsáveis por isso está o aumento substancial das importações de lácteos do Mercosul. Depois de uma diminuição em setembro, outubro voltou a registrar alta, de 25,1%, conforme o boletim da Embrapa.
— O ideal seria que se tivesse sempre um certo equilíbrio entre produção e demanda. Uma diminuição no consumo também desestimula a produção — completa Ries.
Preços extremamente altos tendem a afastar o consumidor, como se viu no ano passado. Por outro lado, valores muito baixos desincentivam o produtor. Vale lembrar que, de 2015 para cá, o número de propriedades dedicadas à produção de leite no Rio Grande do Sul caiu 60,7%, segundo censo da Emater.
Além disso, os produtores do Estado tiveram três anos seguidos de problemas em razão das perdas no milho, que diminuíram a oferta e a qualidade do grão, usado na alimentação dos animais. E, neste momento, a chuva intensa também prejudica o plantio de milho e de pastagens de verão.