A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A nova onda de importação de produtos lácteos de países do Mercosul pelo Rio Grande do Sul redobrou a preocupação tanto do produtor quanto da indústria gaúcha. Só do Uruguai, mais do que quintuplicaram as compras de leite em pó integral, de janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Na avaliação do setor, o impacto será grande, principalmente considerando as já apertadas margens — com custo de produção em alta e prejuízos decorrentes da estiagem. O principal receio do presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, é de que os preços internos caiam ainda mais para o produtor nos próximos meses.
— Todos os dias sabemos de pessoas parando de produzir leite. Pessoas que empregavam em uma atividade que mantém a família no campo e estamos diante de uma avalanche de importação — acrescentou o dirigente.
Embora o Brasil não seja autossuficiente na produção, na avaliação do secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios (Sindilat-RS), Darlan Palharini, a situação exige a atenção das autoridades.
— Não conseguimos competir nesse momento com o valor da Argentina e do Uruguai — justifica, acrescentando que, enquanto o quilo do leite em pó é comercializado pela Argentina a R$ 22, o Brasil não consegue vender por menos de R$ 29.
No caso da Argentina, o cenário foi acentuado com um decreto do governo local, que passou a conceder um subsídio para incentivar mais embarques. Outro fator que coloca tanto a Argentina quanto o Uruguai à frente do Estado quando o assunto é produção de leite é a proximidade dos laticínios das propriedades rurais nesses países, o que reduz o custo da logística e, consequentemente, do preço final do produto. As propriedades também têm capacidade produtiva maior do que as do Rio Grande do Sul.
Os números de importação
- De janeiro a abril deste ano, 7,8 mil toneladas de leite em pó integral foram importadas pelo Rio Grande do Sul do Uruguai. O volume mais do que quintuplicou na comparação com o registrado nos mesmos quatro meses do ano passado
- No mesmo período, 179 toneladas do produto vieram da Argentina. Nesses meses no ano passado, não havia registro de importação do produto do país
- Creme de leite, soro de leite e queijo mussarela desses países também registraram incremento na importação pelo Rio Grande do Sul
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços