Para o setor de lácteos, 2022 deve ficar marcado como um ano de movimentos semelhantes aos de uma montanha russa. As oscilações sazonais de oferta, demanda e preço deram lugar a um sobe e desce vertiginoso, capaz de provocar calafrios, ora na ponta de consumo, ora na da produção. Em setembro, a queda brusca será sentida com força por quem está no campo. O valor pago pelo litro de leite já tinha recuo projetado (de 14,8%) e deve ter redução a ser confirmada nesta terça-feira (27), em reunião do Conseleite, possivelmente maior.
Outro marco identificado pelos pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)/Esal/USP, conforme boletim do leite deste mês, é o do maior déficit na balança comercial (diferença negativa entre exportação e importação) de lácteos desde janeiro de 2000. No mês de agosto, foram R$ 92,9 milhões. Em volume, 170 milhões de litros em equivalente leite, quase seis vezes mais do que em julho, conforme dados do Ministério da Economia compilados pela equipe.
O maior crescimento percentual em importações foi do leite em pó, 176,9% na comparação de agosto deste ano e igual mês de 2021. No total, o volume comprado pelo Brasil de outros países aumentou 130,3% na mesma relação. Por outro lado, o volume exportado teve recuo de 52,5%. Importante lembrar que a quantidade desse produto exportada pelo Brasil não costuma ser expressiva (não tendo ultrapassado 5% da produção). De toda forma, só de julho para agosto, importações aumentaram quase 64% em volume. "Esse cenário esteve atrelado principalmente à baixa oferta de leite no mercado interno", observou Beatriz Pina no boletim.
Depois de acumular valorização real de 60,7%, neste ano, "o movimento altista parece ter chegado ao fim", aponta no boletim a pesquisadora Natália Grigol. Pesquisa de Cepea ainda em andamento mostra que a "Média Brasil" de setembro (que se refere à captação de agosto) pode ter recuo em torno de 50 centavos (por litro). Perspectiva que , como destacou a coluna, é vista com preocupação pelo produtor, em razão dos custos em alta acumulados.