A perspectiva de a redução no valor pelo leite ao produtor ser maior do que o projetado é motivo de preocupação para a Federação nos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS). A entidade diz que tem recebido relatos sobre redução entre R$ 0,60 e R$ 0,80 sobre o recebido no mês passado. Quantia que vai além do recuo de 14,8% estimado pelo Conseleite.
— Para subir isso, levou quatro, cinco meses. Agora, de um mês para o outro, já todo esse valor (caiu) — pontua Eugênio Zanetti, vice-presidente da Fetag-RS.
Com o período de safra da produção do Rio Grande do Sul entrando em campo, a diminuição de valores era esperada. O que surpreendeu foi o tamanho do recuo.
— A baixa superou até o que se imaginava, como também se pensava que pudesse ter chegado ao preço que chegou — analisa Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat-RS).
Entre os fatores que teriam contribuído para esse movimento são apontados o aumento das importações de leite e a retração no consumo. Conforme o vice-presidente da Fetag-RS, em agosto, o volume de produto trazido de outros países foi 130% maior.
Palharini observa que o contexto global também pesou, achatando preços, como vinha sendo sinalizado pelo GDT da Fonterra, considerando referência no mercado mundial de lácteos. Os novos lockdowns adotados na China fizeram o consumo se retrair. E ampliaram os estoques de potenciais fornecedores, como a vizinha Argentina. O produto que entrou de fora no Brasil, chegou a preços menores.
— Sempre houve essa volatilidade no preço do leite. O que precisa ser levado em conta é que o custo não tem baixado de patamar — acrescenta Zanetti.
Apesar de ter reduzido 2,97% em julho, o indicador da inflação do custo de leite (ILC), medido pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul), se mantém em alta, de 9,48% no acumulado de 12 meses. Foi o primeiro mês, depois de 30 consecutivos, que ficou abaixo de dois dígitos (nesse intervalo de comparação). Conforme análise apontada no relatório, "é um indicativo de que a pressão inflacionária nos insumos para produção de leite está diminuindo, porém as margens ainda seguem muito apertadas".