A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A redução no rebanho leiteiro nos últimos anos, somada aos efeitos da estiagem e ao aumento nos custos de produção, já refletem na oferta de matéria-prima para a fabricação de produtos lácteos no Estado. Esse foi um dos motivos que levou a unidade do laticínio Bela Vista, dono da marca Piracanjuba, a reduzir as operações em Carazinho, no norte do Rio Grande do Sul.
Em comunicado, a companhia informou que decidiu suspender a produção de leite UHT, creme de leite, achocolatado e leite condensado na fábrica, por falta de leite no campo. As demais unidades do país, no entanto, seguem operando normalmente.
“Continuaremos coletando leite em todos os produtores da região, sem interrupção, e todo o leite captado será destinado às outras unidades da empresa, em São Paulo das Missões, e em Nova Ramada, ambas no Rio Grande do Sul”, informou o grupo, em nota.
Presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang confirma que, de fato, houve uma perda real na produção de leite no Rio Grande do Sul. Dentre os motivos listados está a seca. A falta de chuva afetou as pastagens que servem de alimentação aos animais, obrigando os produtores a gastarem em outras alternativas de nutrição.
Além disso, o dirigente lembra que a atividade leiteira é de médio e longo prazo e que nos últimos anos, com três estiagens consecutivas, tem sido mais difícil manter os rebanhos ativos.
— Há uma perda real de rebanho, de litros/dia e também de renda. Quer dizer que o produtor sentiu fundo e teve que eliminar matrizes para poder equilibrar as contas — afirma Tang.
O secretário executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, vai além. Para o dirigente, além da redução da matéria-prima, a implementação de uma política de fruição pelo governo do Estado reduziu a competitividade, dificultando a operação das empresas do setor.
A medida colocou condicionantes à produção, como a que determina que todos os insumos sejam adquiridos no RS. Segundo Palharini, grande parte das embalagens utilizadas nos leites UHT e até mesmo o açúcar e o sal utilizados nos derivados são adquiridos fora do Estado.
— É um alerta que já tínhamos feito ao governo do RS, precisamente ao custo de produção, porque torna mais caro produzir aqui do que em Santa Catarina, por exemplo. Alertamos que corria o risco de as empresas migrarem para outros estados — aponta Palharini.
O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor de leite do país, segundo a Embrapa Gado de Leite, e tem capacidade de processar 18,7 milhões de litros de leite por dia. Atualmente, são captados, no máximo, 13 milhões de litros por dia, o que indica uma ociosidade nas fábricas.
Conforme o Sindilat, apenas 40% da produção láctea gaúcha tem consumo interno, sendo o restante embarcado para outros mercados. Ou seja, ao mudar o endereço da produção, as empresas acabam economizando também no escoamento, diante do alto custo dos combustíveis.
Segundo o IBGE, a produção brasileira de leite teve queda recorde no primeiro trimestre de 2022, de 10,3% na comparação com o primeiro trimestre de 2021.