Menos criadores, mais vacas por propriedade e maior produtividade (ou seja, litros por animal) é o que resume o retrato atual do setor de leite no Rio Grande do Sul. Divulgado nesta quarta-feira, na Expointer, o relatório socioeconômico 2021 da atividade feito pela Emater consolida esse cenário como uma tendência, já indicada nos outros três levantamentos (2019, 2017 e 2015). Considerado esse intervalo, o número de produtores vinculados à indústria encolheu: de 84,2 mil para 40,18 mil.
O estudo realizado nos 497 municípios do Estado mostra que a maior redução se dá entre os que produzem um volume diário entre 50 e 100 litros. E que o maior percentual da produção se concentra naqueles que tiram entre 201 e 500 litros por dia (veja quadro ao lado).
– Há claramente uma tendência. A quantidade de produtores segue diminuindo mas isso não afeta a qualidade, e os que ficam usam mais tecnologia e têm mais produtividade, o que compensa – avalia Jaime Ries, assistente técnico estadual de bovinocultura de leite da Emater, responsável pelo relatório.
Para explicar o que leva ao abandono da atividade, Ries enumera uma lista de fatores. Em algumas regiões, a aposentadoria supre a receita do leite, que não compensa o esforço físico. Em outras, as indústrias integradoras de frango e suínos atraem pelo sistema padronizado. Há ainda a migração para a cultura da soja. E tem um outro ingrediente importante: os gastos em alta, puxados principalmente pelas cotações do milho.
– Quanto maior custo de produção, maior a escala necessária para viabilizar o negócio – pondera Ries.
Presidente do Conseleite, Rodrigo Rizzo reforçou que a despesa maior tem relação direta com a permanência ou não na atividade do leite. E acrescenta outro item: a valorização da pecuária de corte fez muitos criadores colocarem a vaca “no gancho”, ou seja, para o abate.
Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) diz há preocupação com os que deixam a produção: – Até quando essas famílias conseguirão se sustentar é algo que temos dúvida.
O dirigente também cobrou a necessidade de diminuir a diferença no valor que a indústria paga pelo leite conforme o volume, “que deveria ser no máximo de 10%”.
Secretário-executivo do Sindilat-RS, Daralan Palharini apontou que o setor preciso ter estratégia, investimento em tecnologia. No cenário atual, observa, “o produtor de 50 litros nem se receber R$ 13 pelo litro viabiliza a propriedade”.
– Temos de discutir e ver como minimizamos um pouco esse impacto. As pequenas indústrias também estão sofrendo –alerta Osmar Redin, assessor executivo da Apil-RS.
A pesquisa
- Essa é a quarta edição do relatório socioeconômico feito pela Emater a cada dois anos
- No divulgado agora, de 2021,foram levantados dados em todos os municípios do Estado. O período de coleta foi de 27 de junho a 20 de julho de 2021
- Em tamanho de área, a média das propriedades é hoje de 18,92 hectares. Em 2015, era de 19. Agricultores familiares são os responsáveis por 96,24% da produção ante 97,56% em 2015
- A média de vacas leiteiras por propriedade é de 7,73, 7,52% a mais do que há seis anos
- A produtividade média por vaca é de 13,54 litros, alta de 28,45% sobre 2015