Em quatro anos, o Rio Grande do Sul perdeu 33,53 mil produtores de leite. O número representa recuo de quase 40%. O dado refere-se a pecuaristas que entregam o produto a indústrias, cooperativas e queijarias ou que têm agroindústria própria legalizada. Eram 84,2 mil em 2015, e são 50,66 mil em 2019. É o que aponta o Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no Rio Grande do Sul, coordenado pela Emater, com a participação de 2,5 mil pessoas nos 497 municípios gaúchos. A maior parte da redução foi entre produtores com média de produção de até 50 litros de leite por dia: 70% a menos em quatro anos.
Responsável pelo estudo, o assistente técnico estadual de bovinocultura de leite da Emater Jaime Ries aponta conjunto de fatores, da inviabilidade da atividade à redução do consumo do produto, que podem ajudar a explicar esse panorama:
— Havia quantidade grande de produtores com baixa escala de produção, renda muito pequena e impossibilidade de fazer investimento que reduzisse a penosidade do trabalho, mantivesse interesse dos filhos em continuar na propriedade. Esse é um aspecto importante.
Além disso, devem ser consideradas, em algumas regiões, pressão das indústrias para aumento de escala, atratividade da soja e, ainda, a redução do consumo do leite entre 2014 e 2018.
— As menores escalas de produção são onde se verifica a maior diminuição, seja porque alguns conseguiram dar passo um frente (produzindo média maior e mudando de categoria) ou porque não conseguiram acompanhar — acrescenta Ries.
Esse panorama não reflete, ainda, o impacto das instruções normativas que tratam da qualidade de leite, uma vez que as informações foram levantadas entre 20 de maio e 30 de junho. Na prática, mais produtores poderão sair da atividade por não se encaixarem no que determina a legislação.
Só nos últimos dois anos foram 14,54 mil produtores a menos. Secretário-geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS) e vice-presidente do Conseleite, Pedrinho Signori salienta que é preciso conhecer em detalhes o que levou à saída da atividade:
— Não são 15 mil produtores, são 15 mil famílias. E o que estão fazendo agora? Só não sai mais, porque ainda temos assistência técnica de qualidade no Estado.
Os dados foram apresentados nesta quinta-feira (5) no Plenarinho da Assembleia Legislativa. Parlamentares presentes manifestaram preocupação com o cenário de redução de produtores.
— Esses dados servirão de base para orientar a tomada de ações. Temos redução de produtores, por outro lado, há aumento da produtividade — pondera Alexandre Guerra, presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados do Estado (Sindilat-RS).
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