A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A primeira rodada dos leilões públicos de trigo, na terça-feira (31), é aguardada com incerteza pelos produtores associados a cooperativas do Estado. Não pelo trâmite em si, mas pelo tipo de cereal que os agricultores vão conseguir ofertar ao certame. A política agrícola, operacionalizada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é uma medida de apoio à comercialização do trigo, que está com valores de mercado abaixo do mínimo.
Em setembro, o governo federal confirmou R$ 400 milhões para leilões do cereal, após pedido de apoio de entidades do setor. Para o Rio Grande do Sul, serão 140 mil toneladas nesta etapa, 70 mil para cada uma das duas modalidades — Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro) e do Prêmio para Escoamento de Produto (PEP).
Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Fecoagro-RS), diz que os produtores estão vendo dificuldade em como participar do leilão. A dúvida citada pelo dirigente é em relação à qualidade do cereal que poderá ser ofertada.
— As dificuldades colocadas são sobre ter ou não o grão tipo 1, que é o trigo que seria o objetivo do programa. Hoje, a produção do Estado está trabalhando muito com o trigo tipo exportação, que está fora do leilão. Estamos tentando junto ao Mapa e ao MDA uma maneira de incluir — diz Pires.
Na sexta-feira (27), um treinamento com as áreas comerciais das cooperativas e técnicos da Conab foi realizado para clarear os pontos de dúvida dos produtores sobre o certame.
A incerteza sobre a qualidade do cereal que será colhido se dá pelo excesso de chuva que tem atingido as lavouras do Estado durante a primavera sob influência do El Niño. Segundo a Emater, menos da metade das lavouras semeadas foi colhida. O estágio atual é de 43%.
— Fica difícil falar que tipo de trigo os produtores vão conseguir colher, ainda mais diante do cenário climático de chuvas e previsão de ainda mais precipitações nas próximas semanas — acrescenta Pires.
Para Darci Hartmann, presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Sistema Ocergs), o interesse pelo primeiro leilão é bom, mas reserva maior expectativa pelas próximas rodadas, também pelo aguardo de que o tipo exportação possa ser incluído no processo.
— O leilão vai responder às expectativas da região que conseguiu colher. Outras regiões produtoras terão de aguardar os próximos leilões. E a ver conforme a qualidade, porque dependendo do que for colhido, talvez tudo tenha que ser destinado à exportação — diz Hartmann.