A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Passada a valorização nos preços do trigo, impulsionados pela repercussão global da guerra entre Rússia e Ucrânia, a queda na comercialização do grão entra no radar dos produtores no Rio Grande do Sul. A depreciação se soma à preocupação em relação à chuva abundante registrada nas últimas semanas no Estado, que pode vir a comprometer a qualidade do principal cultivo da estação.
Entidades como Fecoagro-RS, Sistema Ocergs, Sistema Ocepar e Cooperativa Coamo solicitaram ao Ministério da Agricultura na semana passada a adoção de instrumentos de política agrícola para garantir preços mínimo no cereal. O intuito, de acordo com as entidades, é sensibilizar o governo e antecipar mecanismos para evitar problemas no escoamento da safra.
Segundo o presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (Sistema Ocergs), Darci Hartmann, a principal preocupação é com o escoamento da produção, já que os preços estão muito baixos no mercado.
O valor médio recebido pelos agricultores, atualmente, é de R$ 59,69 por saca de 60 quilos de trigo, enquanto os valores mínimos estabelecidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2023 são de R$ 87,77/saca para o grão tipo 1 e de R$ 75,19/saca para o tipo 2.
— Precisamos que o governo ajude em algum mecanismo para levar a produção a outros Estados. O preço (do grão) está totalmente deprimido. O mercado não está comprador e por isso é um momento de desafios — diz Hartmann.
— Se não tiver um mecanismo que permita ao produtor não vender assim, teremos um desestímulo logo agora que estamos mais perto da autossuficiência — acrescenta o presidente da Fecoagro, Paulo Pires.
As entidades aguardam sinalização do governo para o pedido. Mas a expectativa é que sejam atendidos.
— Temos expectativa bastante positiva, mas também conservadora porque sabemos que orçamento é limitado. O Rio Grande do Sul teve duas frustrações seguidas na soja e no milho e precisamos de mecanismos para rentabilizar — defende Hartmann.
O receio quanto ao clima também existe. A preocupação dos produtores é em relação aos possíveis impactos negativos na qualidade e na comercialização do cereal devido aos eventos recentes de chuva excessiva no RS, além da incidência de doenças fúngicas nas lavouras. A dimensão das perdas, no entanto, ainda está sendo mensurada.
De acordo com o último levantamento semanal na Emater, divulgado na quinta-feira (14), as lavouras se encontram predominantemente em fases reprodutivas, com 41% delas em floração e 34% em fase de enchimento de grãos. O desenvolvimento vegetativo representa 19%, e a maturação compreende 6% das lavouras.
A área cultivada de trigo nesta safra está estimada em 1,5 milhão de hectares. A produtividade prevista é de 3.021 kg/ha.