Uma nova etapa de um programa de incentivo a produtores de leite na Argentina reforça a preocupação com a crise enfrentada na atividade no Brasil. O argumento é o de que, enquanto os agricultores brasileiros seguem tendo contas negativas, com custos maiores do que os preços, os vizinhos renovam a concessão de subsídio. E isso traz condições desiguais de competitividade.
— Enxergamos que o governo da Argentina está encontrando alternativas para salvar o produtor deles. Não pode o governo federal se esconder atrás da desculpa do Mercosul e não fazer nada. Recebi nota de produtor de R$ 1,38, R$ 1,40 pelo litro de leite, com o custo em torno de R$ 2,20 — alerta Eugênio Zanetti, vice-presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetag-RS).
A relação dos beneficiados com o Programa de Assistência Impulso Tambero 2 foi publicada neste mês pela Secretaria de Agricultura, Gado e Pesca do Ministério de Economia da Argentina. E prevê o pagamento de um valor, por litro, para quem comercializa até 7 mil litros por dia. Na chamada categoria 1, de até 1,5 mil litros de leite por dia, a quantia é de R$ 0,28 por litro. E na categoria 2, entre 1,5 mil e 7 mil litros, de R$ 0,21, com um limite de R$ 11,28 mil por propriedade, por mês.
Na passagem pela Expointer, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, falou sobre as medidas tomadas (foram anunciados R$ 200 milhões para compras governamentais do produto, com o objetivo de enxugar a oferta no mercado doméstico) e as ações estudadas para aplacar a crise do setor, que incluem a elaboração de uma política de desenvolvimento do setor.
Representantes do setor reforçam, no entanto, a necessidade de iniciativas que consigam frear o volume de lácteos que tem entrado de países do Mercosul, especialmente de Argentina e Uruguai. No primeiro semestre, as compras de lácteos de países integrantes do bloco cresceram 283%. Quando se considera apenas o leite em pó, o percentual é ainda maior: 437%.
— Não estamos querendo que se burle o Mercosul, temos outros instrumentos que podem dar apoio aos produtores —observa Darlan Palharini, diretor-executivo do Sindilat-RS.
O aumento expressivo das importações ampliou a oferta interna e tem impactado sobre os preços do leite, em plena entressafra gaúcha. Além disso, produtores vinham de uma sequência de perdas causadas por três estiagens consecutivas. Por fim, a recente cheia no Vale do Taquari também trouxe impactos à atividade.