A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Depois de amargar as perdas de uma terceira estiagem seguida, agora é o excesso de chuvas que deixa em alerta as culturas de verão no Rio Grande do Sul. Ao menos duas questões preocupam para a próxima safra: o atraso na semeadura da soja e do milho e a ocorrência de doenças nas lavouras.
No milho, segundo principal cultivo da estação, a chuva volumosa tem prejudicado mais expressivamente a metade Sul do Estado, atrasando o plantio. Já no Noroeste, parte do que já havia sido plantado antes da chuva está passando por replante para cobrir falhas em algumas lavouras.
Ricardo Meneghetti, presidente Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS), diz que o plantio do grão já era para estar mais adiantado em algumas regiões.
— Quem não plantou antes, está atrasando. Era para estarmos bem mais adiantados. A colheita vai ficar irregular lá na frente. De qualquer forma, a área originalmente a ser plantada não deve ser reduzida — diz Meneghetti.
A área prevista para o milho na safra 2023/2024 é de 817.521 hectares, com estimativa inicial de resultar em 6 milhões de toneladas do grão colhidas.
Em relação à produção, ainda é cedo para prever. Mas a expectativa, por enquanto, é otimista. Se o verão não for tão seco como os quatro anteriores, a esperança é de que a produção sem estresse hídrica seja boa e que se possa colher bem e a bons preços.
— Na região Noroeste, que é a que produz mais milho, existe uma esperança de que se consiga fazer uma safra normal, apesar dos efeitos de El Niño batendo na janela. Mas muitos produtores acabaram optando pela soja, que é uma cultura de menor risco e que tem mais saída — diz Meneghetti.
Na oleaginosa, aliás, a preocupação adicional vem das doenças, com a possibilidade de ocorrência de ferrugem da soja. O maior impacto está na quantidade das precipitações, que pode afetar a germinação. O calendário de plantio do grão, que sofreu alterações na janela, inicia nesta semana.
— Provavelmente vai ocasionar maior ocorrência de doenças, como a ferrugem asiática na soja. Podemos ter uma ocorrência dessa doença, que pode causar danos de 10% até 90% nas lavouras dependendo a intensidade — explica o coordenador de Defesa Sanitária Vegetal da Emater, Elder Dal Prá.
Também há impacto na safra de inverno que ainda não foi colhida, com danos pelo excesso de chuvas na cultura de trigo. Conforme Dal Prá, ainda não há um dado consolidado de perdas, mas há relatos de lavouras com ataque severo de doenças, como a doença de espiga. A condição deve afetar também a colheita do cereal.