A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Enquanto a safra de verão já começa a ser planejada — ou até semeada, como é o caso do milho, mudanças no calendário do plantio da soja definidas pelo Ministério da Agricultura mobilizam produtores e entidades no Rio Grande do Sul para reverter o encurtamento da janela. E o motivo que se acrescenta é a pressa, faltando pouco mais de um mês para a nova data do calendário.
A portaria publicada em julho reduziu em 30 dias o intervalo de plantio do grão. O período para os agricultores semearem a soja na próxima temporada será de 1° de outubro de 2023 a 8 de janeiro de 2024. Na anterior, o plantio ocorreu entre 11 de outubro e 28 de fevereiro, somando 140 dias.
O tema voltou a ser tratado na última semana, em audiência com o ministro Carlos Fávaro, na quinta-feira (17). Na ocasião, foi questionado o posicionamento técnico que embasou a mudança pela pasta. O novo calendário busca reduzir a incidência da ferrugem asiática da soja. O pleito pela reversão da janela já havia sido levantado pela Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e pelo secretário estadual da Agricultura, Giovani Feltes.
Para os produtores gaúchos, o estreitamento nas datas inviabiliza um calendário de oportunidade no Rio Grande do Sul, que é fazer a safrinha da oleaginosa logo após o plantio do milho. A mudança, portanto, prejudica os agricultores que apostam no sistema de rotação.
— Entendemos a importância de ter a oportunidade de fazer a sucessão de milho com soja num plantio de verão. Essa prática é o quinto maior cultivo em área no Rio Grande do Sul. Só por isso já denota importância de reverter o calendário — defende o diretor-executivo da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro-RS), Sérgio Feltraco.
Para o dirigente, o encurtamento acarretará diminuição futura da produção de milho no Estado. Dos cerca de 840 mil hectares de milho cultivados entre os cooperados, a opção de fazer uma segunda safra se dá em 34% dessa área plantada.
Além disso, foi o calendário maior das últimas safras que permitiu aos produtores estenderem o plantio da soja quando a produção no Estado era drasticamente afetada pela estiagem.
— Se permanecer em 8 de janeiro, o “casamento” das duas culturas fica inviável pela época do próprio milho, o que vai implicar uma nova redução no cultivo do grão e aumento ainda maior da nossa dependência do milho de outros Estados. Quadro que já vem ocorrendo pelas estiagens e perdas dos produtores na cultura — acrescenta Feltraco.
A avaliação é de que há possibilidades de flexibilizar o calendário definido, pelo menos nas regiões onde a prática mais ocorre no Estado. No encontro com o ministro, os representantes da Fecoagro apresentaram um mapa ilustrando a distribuição da rotação no RS, “o que foi muito bem saudado pelo Ministério”, disse Feltraco.
Outros Estados têm pressionado por mudanças. Mas, também, em linhas opostas. No Mato Grosso, por exemplo, produtores de soja e algodão divergem sobre o calendário de plantio.