A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Assim como o Rio Grande do Sul, o Chile também tem sofrido períodos de seca prolongados. Para driblar pelo menos parte do cenário adverso, a famosa vinícola do país Concha y Toro está apostando em inteligência artificial e internet das coisas desde a colheita das suas uvas até a fabricação e distribuição do vinho. Uma espécie de “enologia de precisão”.
A ideia da empresa foi otimizar o que é possível de se ter controle, como a qualidade e a produtividade de toda a cadeia produtiva — já que o clima não seria possível. Para Ricardo Luna, do Centro de Pesquisa e Inovação da Concha y Toro, esse é o principal desafio do setor atualmente:
— As mudanças climáticas resultam em safras cada vez mais incertas. Esse desafio tem consequências na produção e na qualidade, além de mais incerteza em torno do momento ideal da colheita. Como consequência, as vinícolas têm que adaptar a logística de recebimento das uvas e a gestão da vinificação.
Pelo menos três vinícolas da empresa chilena já têm essa tecnologia na palma da mão — a San Javier, a Lourdes e a Lolol. Ou melhor, dentro de uma plataforma digital chamada Smart Winery, desenvolvida pela multinacional SAP e implementada pela BlueBoot, do Uruguai. Nessas vinícolas, foi possível aumentar a produção de vinhos e economizar em equipamentos. Mas como?
A partir de dados da cadeia produtiva alimentados por técnicos e sensores instalados na vinícola, a tecnologia permite prever a qualidade das uvas e do vinho. No processo de fermentação da bebida, por exemplo, é possível fazer o monitoramento online da temperatura, remontagem e densidade. Também é possível saber qual o melhor período de plantio e de colheita da fruta.
— É como se fosse um grande computador, um grande sistema monitorando em tempo real todo o processo produtivo do vinho — resume Matheus Souza, diretor de Inovação da SAP América Latina e Caribe.
De resultados até agora, a Concha y Toro conseguiu otimizar a utilização das cubas durante o processo de fermentação — uma melhoria de 3,5 ciclos para 4,5 ciclos por cuba —, obter lucros em uvas processadas na colheita — adicional de 2,56 milhões de quilos de uvas com a capacidade existente — e economizar US$ 375 mil em custos de aquisição de tanques de fermentação.