A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Desde que foram confirmados os primeiros focos de gripe aviária em aves silvestres no Brasil, os cuidados sanitários têm sido redobrados para evitar que o vírus chegue aos planteis comerciais. No fim de junho, pouco mais de um mês depois do primeiro registro, o Ministério da Agricultura confirmou o primeiro caso da doença em ave de criação doméstica, mostrando que, apesar de toda vigilância, o perigo do contágio existe e todo cuidado é pouco.
Em estudo encomendando pelo Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (Anffa Sindical), a Fundação Getúlio Vargas (FGV-Agro) apontou que um eventual surto de gripe aviária nos planteis brasileiros causaria um impacto anual de R$ 21,7 bilhões na economia do país. Somente ao agronegócio, o prejuízo seria de R$ 11,8 bilhões.
Os efeitos possíveis têm impacto em uma série de outros segmentos, dada a relevância do setor para a produção brasileira. O levantamento estima perda de 46 mil postos de empregos formais, além de queda de R$ 1,3 bilhão na arrecadação de impostos, e da redução de R$ 3,8 bilhões na renda do brasileiro. O impacto, segundo o estudo, seria ainda maior nas atividades do agronegócio, que perderia 26 mil postos de trabalho.
Sem falar nos reflexos regionais, em locais onde a criação de aves e a produção da proteína figuram como atividade econômica principal. É o caso dos Estados do Sul, que, juntos, respondem por 80% das exportações nacionais. Os três Estados, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, já têm focos da doença.
Somente no RS, as aves estão presentes em 239 mil estabelecimentos gaúchos, ou em mais de 50% das propriedades agropecuárias. O Estado é o terceiro maior produtor de frango de corte do Brasil, o terceiro maior exportador de ovos e o maior exportador de carne de peru.
Enquanto a doença se mantém longe dos planteis comerciais, não há alteração no status sanitário do país, nem dos Estados afetados, o que garante as comercializações com outros locais. No primeiro semestre, aliás, as exportações brasileiras de carne de frango tiveram alta de 8,5%, apesar da doença no radar.
No entanto, mesmo com recomendações mundiais que asseguram o comércio e o consumo, algumas suspensões já começam a aparecer. É o caso do Japão, que pausou temporariamente suas importações de aves vivas e de carne de frango do Espírito Santo, depois da confirmação do caso doméstico.
Considerada de alta patogenicidade, ou seja, rapidamente transmissível, a gripe aviária foi registrada pela primeira vez no país em maio. Desde então, está presente em sete Estados. Os focos mais recentes foram identificados em São Paulo, na semana passada. São 62 focos ao todo no país e seis investigações em andamento, conforme painel de dados do Ministério da Agricultura atualizado diariamente.