A maior preocupação trazida pelos casos de influenza aviária confirmados no Brasil (até o momento, no Espírito Santo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul) é em relação às granjas comerciais. O objetivo maior é evitar que o vírus alcance os aviários onde é produzida a proteína para abastecer o mercado interno e cerca de 150 destinos mundo afora. Em uma situação como essa, o país perderia o status de livre da doença concedido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), o que na prática pode se converter em restrições temporárias.
— A ocorrência de influenza aviária de alta patogenicidade em aves silvestres e domésticas não altera essa condição e, inclusive, indica que não deve haver restrições no comércio internacional — explica o diretor de mercado da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luís Rua.
As diretrizes para essa e outras enfermidades animais são estabelecidas pela OMSA. O dirigente da ABPA lembra que, até 2016, não havia essa diferenciação. Na prática, o que ocorria é que, mediante uma notificação (obrigatória), muitos mercados fechavam suas portas à proteína dos países com casos, mesmo sendo de baixa patogenicidade. Depois, criou-se essa diferenciação. Todos os focos precisam ser comunicados ao órgão, mas somente quando são de alta patogenicidade e atingem rebanhos comerciais é que há alteração do status sanitário. A reconquista exige um período mínimo de 28 dias sem nenhum registro da doença.
O Brasil já vinha, no entanto, negociando alterações nos acordos sanitários com os países compradores que exigem o certificado de livre de influenza aviária, por meio do Ministério da Agricultura. Segundo Rua, em mais de dois terços houve alterações que permitem restrições compartimentadas (por regiões, municípios, raio de distância):
— Desde 2021 estão se fazendo as solicitações. Agora, só se intensificou. Isso é fruto do planejamento feito pelo governo brasileiro e por nós, no sentido de não esperar acontecer.
O diretor de mercado cita o caso dos Estados Unidos. O país registou influenza aviária em granjas comerciais de 47 Estados, mas fechou 2022 exportando quantidade semelhante de carne de frango à embarcada um ano antes.
Ainda assim, o melhor remédio segue sendo a prevenção. No caso da influenza chegar a aviários, há necessidade de abates sanitários, para evitar que o vírus se espalhe, o que impõe perdas econômicas. Em seu boletim mais recente, de 21 de abril a 4 de maio, a OMSA contabilizava 12 focos em planteis comerciais e 13 em aves silvestres/domésticas, principalmente na Europa, mas também nos continentes americano e africano.
O Brasil é hoje o maior exportador global de carne de frango, bem à frente do segundo colocado, os EUA.