A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Com a área plantada de feijão minguando ano após ano no Rio Grande do Sul, garantir a produção desse ingrediente tradicional da culinária brasileira depende de ampliar a produtividade (rendimento por hectare). E foi com esse foco que o Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA) da Secretaria da Agricultura desenvolveu uma nova cultivar, a RS GAÚCHO, que acaba de ser registrada pelo Ministério da Agricultura.
Entre as características da nova variedade, de feijão preto, pesquisadores apontam uma maior produtividade — estudos mostraram alta de 55,5% em relação à média gaúcha, de 1.484 quilos por hectare. Outro atributo obtido considerado estratégico para o setor é o seu porte, mais ereto, o que facilita a colheita com máquinas.
— Isso pode incentivar que produtores cultivem a variedade consorciada com outras culturas, nos períodos de safra e safrinha, em lavouras de sequeiro ou irrigadas e em plantio direto ou convencional — analisa o coordenador do estudo, Juliano Bertoldo.
Mas não é só isso que deve entrar na conta da solução para recuperar áreas semeadas com feijão, lembra o pesquisador:
— Precisamos de outras políticas públicas que, por exemplo, incentivem o consumo do feijão e aumentem a rentabilidade do produtor.
Entre os fatores que ajudam a explicar a diminuição da área do feijão no Estado estão as culturas mais atrativas economicamente, como a soja, e a mudança do comportamento alimentar do consumidor, com preferência para produtos de preparo mais rápido, usualmente ultraprocessados, acrescenta Bertoldo.
As próximas fases da pesquisa são a de inserir a cultivar no zoneamento agrícola de risco climático (ferramenta que delimita municípios e época de plantio ideal para cada cultura) e fazer a multiplicação de sementes. A expectativa é de que a partir de 2024 o insumo já possa estar no mercado, sob demanda, com a publicação de um edital buscando multiplicadores de sementes.
— Ainda existem alguns entraves burocráticos para colocar cultivares de uma maneira mais comercial — esclareceu Caio Efrom, diretor do DDPA.
Atualmente, para inseri-las no mercado, o governo do Estado tem buscado convênios como o da Emater, que distribui as sementes em comunidades rurais, cooperativas e unidades demonstrativas.
Entre 2003 e 2021, a área plantada com feijão reduziu de 160,3 mil hectares para 61 mil hectares no Rio Grande do Sul. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).