A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Na Vila dos Pescadores, em Tapes, a rede velha que antes ia para o lixo agora virou utensílio de higiene, item de decoração e até acessório para pet. É pelas mãos de 15 pescadoras que a transformação acontece.
O trabalho artesanal tem permitido, desde o ano passado, que elas possam vender, além de peixe, esponjas para banho e cozinha, almofadas, chaveiros e camas para animais.
A ideia partiu da Francilene Vieira de Ávila, extensionista rural social do Escritório da Emater no município do sul do Estado:
— Eu me incomodava com aquele monte de rede descartada no lixo doméstico. Sempre pensei em aproveitá-la de forma sustentável. E aí lembrei das esponjas que a minha mãe fazia quando eu era criança.
Segundo Francilene, todo ano a rede precisa ser trocada pelo pescador. Só em Tapes, há cerca de 70 famílias na atividade, de acordo com a Emater.
Foi a partir de agosto do ano passado que a iniciativa batizada de Projeto Mãos à Obra ganhou forma. E, hoje, pode-se dizer que tem vida própria. Além de esponjas (confeccionadas a partir da costura com o fio da rede), o grupo produz almofadas, chaveiros e camas para pets de crochê (com enchimento da rede).
Maria Isabel Castro, uma das integrantes, apostou em um detalhe para se diferenciar.
— Comecei a fazer crochê na borda. A cor (da linha) chama mais atenção — explica.
Além de ser uma renda extra para as pescadoras e um destino ecologicamente correto para a rede, a secretária da Colônia de Pescadores Z-43, que também organiza o projeto, Kelly Rigon, afirma que a iniciativa também ajudou na saúde mental dessas mulheres:
— Pela pandemia, a maioria estava muito deprimida. Hoje, a gente se reúne a cada 15 dias para costurar, mas também para conversar. Tem até hora do lanche.
Para Maria Isabel, esse foi um dos principais ganhos:
— Eu sou pescadora. Fico muito afastada da "civilização". Achei que seria um tempo para me ocupar.
Os utensílios produzidos no Projeto Mãos à Obra são comercializados no Mercado Público Municipal de Tapes e em lojas de bazar e produtos naturais da cidade. Cada um leva o nome da pescadora que o confeccionou, para que o valor seja revertido a elas.