É com o espírito de impulsionar setores econômicos da Sérvia que Milica Stefanovic conduz o seu time na Aliança Nacional para o Desenvolvimento Econômico Local (Naled, na sigla em inglês). Nascida em Belgrado e formada em Economia, hoje é dirigente da associação criada com o objetivo de fornecer suporte e incentivo a segmentos como o do agronegócio. Nesta entrevista, ela fala sobre realidade produtiva do país e as soluções já construídas pela iniciativa.
Qual foi sua formação e seu caminho até a atual função?
Me formei em Economia e depois de alguma experiência no setor privado, busquei uma carreira na Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional em 2007. Comecei a trabalhar como consultora de marketing para um projeto financiado pelos EUA que lidava com desenvolvimento econômico local na Sérvia. Na época, estávamos tentando ajudar governos locais a atrair investimentos e apoio em setores estratégicos como agricultura, indústria automotiva, TI e outros.
O projeto também apoiou o estabelecimento da primeira associação público-privada, a Aliança Nacional para o Desenvolvimento Econômico Local. Em 2010, me juntei ao time.
Como o agronegócio se encaixa na rotina da aliança?
Coordeno um departamento de 14 pessoas, como especialista ou líder de equipe em vários projetos, e estou no comando do desenvolvimento organizacional e estratégico. Desenvolvimento agrícola e melhora das condições para a indústria alimentícia é uma das nossas principais prioridades estratégicas. Temos vários membros interessados no ou em fazer a vida com o agronegócio, de cooperativas locais a grandes companhias internacionais e, claro, governos locais.
Vocês desenvolveram um app para formalizar trabalhadores sazonais no agro. Como foi?
Até 2019, 95% dos trabalhadores sazonais na agricultura eram empregados informalmente na Sérvia, o que significa que mais de 80 mil trabalhadores não eram registrados e nenhum seguro ou imposto pago para eles. Um dos motivos eram procedimentos muito complicados.
A aliança uniu forças com seus membros do agronegócio, governos locais e doadores internacionais. Fornecemos apoio especializado para o governo para redigir a primeira Lei do Emprego Simplificado para Trabalho Sazonal. Desenvolvemos também um site e o primeiro aplicativo do governo do país com a possibilidade de registrar os trabalhadores sazonais online.
O sistema é controlado pela Administração de Imposto. Com o registro, não perdem benefícios sociais. Mais de 60 mil trabalhadores sazonais foram formalizados. Agora, procuramos possibilidades para expandir o sistema a outros setores e países.
Quais as caracterísicas da terra e os principais produtos agropecuários na Sérvia?
A terra agrícola cobre um território de 3,8 milhões de hectares, de planaltos férteis no Norte, a áreas montanhosas no Sul.
O clima é continental-moderado, e temos quatro estações e condições de tempo: neve no inverno, primavera amena e verde, dias quentes, ensolarados e longos no verão e chuvosos no outono. A produção é baseada na agricultura familiar, com cerca de 500 mil famílias.
A agricultura compreende 6% do PIB da Sérvia. As exportações de produtos agrícolas é superior a 6 bilhões de euros e têm União Europeia como principal destino. Os produtos mais importantes incluem milho, trigo (farinha), girassol (óleo e farelo), beterraba (açúcar), soja, batatas, framboesas, maçãs, ameixas, cerejas, uvas, carne suína, bovina e de aves e leite.
Como ONGs podem ajudar a promover a segurança alimentar e a desenvolver a produção em si?
O papel das organizações não-governamentais é vital para facilitar o diálogo público-privado entre instituições do governo de um lado, e grandes produtores, fazendeiros, cooperativas e a sociedade civil de outro. Nossa pesquisa e experiência têm nos mostrado que o governo é o mais receptivo de iniciativas vindas de associações que representam a voz de grande parte da economia ou de um setor em particular. O estabelecimento das associações e da defesa conjunta é especialmente importante para a agricultura na Sériva, que é caracterizada por uma boa fragmentação de produtores. Em anos atrás, a Naled apoioi muitas ONGs locais para defender reformas na agricultura. Por exemplo, junto com a Federação de Organizações de Apicultura da Sérvia, nós lançamos uma iniciativa para abolir pó de mosquito transportado pelo ar, que é muito prejudicial para as abelhas, e como resultado mais de 30 prefeitos assinaram a nossa Declaração para a Proteção das Abelhas em toda a Sérvia.
Além disso, ONGs atuam em um importante papel para disseminar conhecimento e boas práticas entre países em regiões (como nós estamos fazendo com a reforma do trabalho sazonal), mas também com países ao redor do mundo — através de vários programas de intercâmbio como o Programa de Liderança para Visitantes Internacionais financiado pelo Departamento de Estado dos EUA, em que você e eu tivemos o privilégio e o prazer de participar em novembro de 2022. E quem sabe — talvez nós vamos encontrar o caminho para trocar boas práticas na agricultura entre Sérvia e Brasil.