Distantes 11,4 mil quilômetros em linha reta, Lavras do Sul, na Campanha, e Sharm el Sheik, no Egito, ficam lado a lado quando o destino é o futuro. Na cidade egípcia, que a partir do próximo domingo (6) recebe a COP27, os debates buscam encontrar o caminho (e as metas) para a redução dos efeitos das mudanças climáticas no planeta. No município gaúcho, onde até sexta-feira (4) ocorre o Universo Pecuária, as discussões inserem a atividade nas soluções para a redução dos gases causadores do efeito estufa.
Ao classificar a pecuária brasileira como a mais sustentável do mundo, Maurício Nogueira, sócio-diretor da Athenagro, reforça que essa agenda mundial é favorável ao Brasil, e precisa ser vista como tal.
— A pecuária tira mais carbono do que emite metano. Não estamos conseguindo comunicar isso ao mundo.
Coordenador do Rally da Pecuária, ele apresentou dados que mostram como o uso da tecnologia permitiu a ampliação da produtividade e a preservação de áreas. Na entrevista abaixo, Nogueira dá detalhes sobre a temática. Confira:
O que o faz afirmar que o Brasil tem a pecuária mais sustentável do mundo?
Nos últimos 30 anos, quando começaram os debates sobre a questão ambiental, o Brasil trouxe a maior revolução em produtividade agropecuária do mundo todo. Na pecuária, aumentamos a produtividade 160%, 170%. E fizemos isso aumentando o rebanho por hectare em 70%. Quer dizer, para cada animal a mais que a gente guardou, produzimos três vezes mais. É uma revolução difícil até para o mundo enxergar e entender o potencial que o Brasil tem. Fizemos isso preservando cada vez mais. Nós temos, sim, um problema, um constrangimento muito grande, que é o desmatamento. O desmatamento ocorre por pressão imobiliária. É alguém querendo ocupar uma terra ou vender madeira, o que acaba virando pasto porque é a alternativa que ele tem, colocar algo que não possa ser tomado por fiscalizações. Inclusive, o maior prejudicado com o desmatamento ilegal que acontece no Brasil é, primeiro, o produtor e segundo, o frigorífico. Então é do nosso interesse combater. A pecuária nesses 30 anos ganhou tanta produtividade que foi possível preservar ou evitar o desmatamento de cerca de 280 milhões de hectares. É um ganho fantástico, fora os estudos mostrando que se remove mais carbono do que emite.
Se fala muito sobre a emissão do metano pela pecuária. E você coloca, com números, que a pecuária não é só parte da solução, como também traz um sequestro adicional de carbono.
O boi não vive de sombra. Ele tem que comer. E o pasto para crescer tem que criar raiz. O boi não consegue comer tudo, então sobra algum capim ali que vai morrer, dá o rebrote da outra planta... Na hora que a gente coloca tudo isso no balanço, quanto mais tecnológico for o sistema, maior a quantidade de carbono removido para cada carbono emitido. Já transformando o metano do bovino em equivalente gás carbônico, que é uma forma que a gente tem de padronizar esse cálculo. E isso acontece exponencialmente.
Você diz que o Brasil não deve temer a agenda ambiental...
Porque somos melhores do que os outros. O que não conseguimos ainda é mostrar. E aí falta começar a envolver nessa discussão mais cientistas da zootecnia, do solo, das pastagens. Precisam incluir esses pesquisadores para mostrar o que acontece de fato. A hora que isso acontecer, conseguiremos comunicar melhor, teremos um ganho a mais para a pecuária brasileira.
Sobre o mercado de créditos de carbono, sua observação é: “não esperem a precificação, façam”. Por quê?
Controlar a emissão de carbono dá dinheiro. Estamos falando de aumento de produtividade, redução de emissão ou aumento de remoção, em melhoria de sistemas de produção de pastagem, tudo isso dá dinheiro. Lá na frente você pode ser beneficiado por ter feito antes. Será um bônus. Acho que a única preocupação que o pessoal tem de ter é fazer certo. A fazenda ficará mais difícil de administrar, o processo será mais complicado, é só não errar no passo a passo que o resultado é garantido.
Dá para continuar a comer tranquilamente o churrasco do final de semana, né?
Pode comer tranquilo, não existe problema ambiental nenhum relacionado ao consumo de carne. Pelo contrário, o maior problema que a gente pode relacionar, que é fato, foi o que aconteceu na pandemia. Nós criamos uma pandemia porque misturaram um monte de bicho da fauna sem controle nenhum. O maior problema hoje que existe para a humanidade já confirmado é a falta de disponibilidade de proteína e não o excesso. Pode comer carne tranquilo.