Foi sob medida para o projeto da usina a ser erguida no Estado pela BSBios, que a Biotrigo Genética, também localizada em Passo Fundo, no Norte, desenvolveu duas cultivares de trigo com foco na produção de etanol. As variedades serão apresentadas nesta semana em um dia de campo e devem entrar no mercado a partir de 2024, quando também está previsto o início das operações da planta de produção do biocombustível. Mas e o que têm de diferente essas variedades?
— São trigos com maior capacidade de conversão do amido do que os já existentes, que produzem maior quantidade de litros de etanol por tonelada de grão — explica Tiago de Pauli, gerente comercial da Regional Sul da Biotrigo.
E isso traz uma vantagem extra, visto que os cereais de inverno, acrescenta De Pauli, já têm uma melhor conversão do que o milho, produzido no verão. Na prática, o que se busca com o desenvolvimento genético é criar uma cultivar que tenha um maior potencial produtivo para o processamento do etanol:
— Essas duas primeiras cultivares vêm de forma licenciada para a BSBios, que organizará todo o fomento e a originação do grão.
Esse potencial maior das novas cultivares para a produção do etanol, no entanto, não impede que o cereal seja utilizado para a panificação. Assim como uma variedade tradicional com foco na moagem poderá servir para o processamento do combustível. A diferença é que essas especificamente desenvolvidas para atender ao projeto são materiais mais produtivos, mais estáveis.
— Uma das principais dúvidas é se esse grão pode ser utilizado também para moagem. A resposta dos nossos materiais é de que sim — reforça o gerente comercial da Biotrigo.
Com investimento de R$ 556 milhões, a usina de etanol da BSBios tem previsão de capacidade instalada final de processamento de 1,5 mil tonelada de cereais por dia. A estimativa é de que, para dar conta dessa demanda, seja necessário ampliar em 350 mil hectares a área cultivada com trigo, o que representa um incremento de 25%. Outros cereais de inverno também servirão de matéria-prima, mas dada a área da cultura, deverá ser o principal insumo. Por ano, será possível produzir 210 milhões de litros do biocombustível, o equivalente a 23% do mercado gaúcho para o etanol veicular.
Para o produtor, abre-se mais uma janela de oportunidade para a comercialização de trigo — além da moagem, da indústria de proteína animal e da exportação. A produção do etanol gera outro subproduto, o DDG, que também pode ser usado na alimentação de aves, suínos e bovinos.
As perspectivas de mercado e as oportunidades para o grão são tema do 8º Fórum Nacional do Trigo, que será realizado na sexta-feira, dia 07, em meio à programação da Fenatrigo, em Cruz Alta.