A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Dada a largada na estação das flores, o trabalho dos produtores de plantas ganha ainda mais visibilidade. Apesar de ser um cultivo que acontece durante o ano todo, é na primavera que as flores ficam mais vistosas e ganham maior apelo de consumo.
Produtor de flores há 30 anos em Pareci Novo, um dos principais polos gaúchos de produção e distribuição nesse segmento, Jair Calsing observa atento as mudanças do mercado e as inovações que surgem para ampliar a atuação no ramo. Flores para jardim são o carro-chefe na propriedade Flores Ouro Verde, onde Calsing e outras sete pessoas são responsáveis pelos 5 mil metros quadrados de estufa. De lá, saem flores e plantas que abastecem o RS todo no atacado e no varejo.
Na entrevista a seguir, conheça mais sobre o trabalho do produtor de flores:
Como começou na produção de flores?
Começamos em 1998. Produzíamos citros até então e tínhamos necessidade de ampliar o negócio para outro tipo de produção, porque só com os citros estava complicado. Então minha esposa e a irmã dela começaram a produzir flores. Naquela época, o poder Executivo estava incentivando a produção, porque Pareci tinha bastante atacadista e distribuidor de flores, mas não havia produção. Buscavam as plantas em São Paulo e Santa Catarina e distribuíam para o restante do Estado. Então a prefeitura, por meio da Emater, fez cursos junto com os produtores e começou a produção.
Qual o foco da sua produção?
São flores para jardim, como petúnia, amor perfeito, alegria de jardim... flores pequenas que se planta para enfeitar canteiros. E alguma coisa de vasos, como suculentas e também chás e temperos. Temos uma variedade bastante grande.
De onde vem o apreço pelas flores?
Aqui é uma região alemã e existe uma tradição de ter flores nos jardins. E Pareci Novo, por ter essa imigração alemã muito forte e também um colégio de padres Jesuítas que cultivavam flores, há esse costume do cuidado. As pessoas começaram a comercializar isso e foram em busca de plantas em outros lugares. Hoje, tem uma produção muito grande aqui.
Com que atividades o senhor se envolve dentro da produção?
Com todas. Desde a formulação do substrato até a produção mesmo de adubar, fazer as pulverizações necessárias, a rega das plantas, a semeadura. Ou seja, todo o processo desde a semente até a planta ficar pronta. E, depois, a comercialização.
É uma cultura que depende muito da sazonalidade. Como lidar com esse fator?
Tem de ter muita dedicação. Flores são como crianças. Exigem cuidado os sete dias da semana.
JAIR CALSING
Produtor de flores
Essa é uma dificuldade muito grande no Rio Grande do Sul porque temos os dois extremos, de 3°C no inverno até 48°C dentro de uma estufa em janeiro e fevereiro. Mas foi algo que foi avançando durante esse tempo de 30 anos que se produz flores aqui na região. Foi-se aprimorando estruturas que tinham uma ventilação melhor, aprimorando as variedades... hoje temos as que se cultivam no verão e as que se cultivam no inverno, e também os substratos utilizados em cada estação. Isso tudo foi um aprimoramento de anos, de muita pesquisa. O clima no Rio Grande do Sul é muito extremo e isso dificulta bastante a atividade.
O que o senhor faz para modernizar a produção? Buscou tecnologias?
Temos telas de sombreamento, exaustores para tirar o calor, e também alguma coisa na irrigação, como os nebulizadores que fazem uma neblina dentro da estufa para refrigerar. No manejo, usamos um substrato que retém um pouco mais de líquido no verão e no inverno usamos outro mais leve, que drena melhor.
Pareci Novo é um importante polo da produção gaúcha de flores. Onde chega a sua produção?
Em todas as regiões do Estado. De Pareci Novo saem caminhões para todo o Rio Grande do Sul e alguma coisa até para fora. Há uma rede de atacados e distribuição muito forte aqui. A maior parte da minha produção vai para a Grande Porto Alegre, para a zona Sul, como Pelotas e Rio Grande, para a região de Passo Fundo e também para a Serra, como Gramado e Canela, que são regiões turísticas e grandes consumidoras da nossa produção.
O mercado de flores acompanha o comportamento de consumo – existe uma moda nesse ramo. Como faz para acompanhar as tendências de mercado e definir prioridades?
Hoje, o acesso à informação é muito fácil. Por meio da internet se consegue ver as tendências de mercado. São Paulo é referência atualmente, então se usa muito como modelo. Por exemplo, há dois ou três anos estourou a tendência das suculentas e dos cactos... Isso é muito rápido de chegar aqui.
E qual tendência em flores hoje?
Atualmente, diria que a moda é o colorido. Depois da pandemia, as pessoas querem um pouco de cor no jardim. Por isso estamos priorizando uma planta que tenha cores fortes e ao mesmo tempo durabilidade. As pessoas querem plantas duráveis para não precisar de muito manejo. Estão está se dando prioridade para isso: plantas de cor forte, que deem um colorido no jardim, e ao mesmo tempo que durem bastante.
Por serem produtos delicados, quais cuidados a produção exige?
Tem de ter muita dedicação. Flores são como crianças. Exigem cuidado os sete dias da semana. Não existe uma planta que tu podes dizer que na sexta-feira vai fechar o escritório, ir para a praia e retomar na segunda. Isso não existe para nós produtores de flores. Precisa montar uma estrutura que tenha todo dia pessoas para cuidar daquela planta. Isso é muito importante. E é complicado porque a mão de obra é muito difícil, então tem que gostar do que faz.
Quais são as suas flores preferidas?
A kalanchoe, ou flor da fortuna, é uma que realmente está me impressionando pela qualidade. Para a primavera, é uma flor que tem um colorido muito bonito. A petúnia é outra que está entrando forte, tem uma flor grande e uma coloração muito bonita. Pessoalmente, gosto muito de três marias, ou bougainville. É uma flor que me encanta!
Como manter o setor aquecido?
A troca de experiência entre produtores, atacadistas e floriculturas, que são as pessoas lá da outra ponta, nos ajuda muito. E nisso a Aflori (Associação Riograndense de Floricultura) é muito importante. Muitas vezes, são quem nos dão as dicas de o que produzir, de sinalizar o que o mercado está pedindo, de fazer essa ponte. São pessoas diferentes, com tipos de negócios diferentes, e a associação consegue integrar para trocar informações.