Ao concluir o técnico agrícola, no Instituto Federal de Bento Gonçalves, Paulo Vitor Silvestrin, não imaginava que, tempos mais tarde, em 2014, também estaria formado em Ciências da Computação, pela UFRGS, e, com pouco mais de 25 anos de idade, casaria a paixão pela tecnologia com o conhecimento rural para fundar a Aegro. Hoje, Silvestrin e os os sócios, estão à frente de uma solução empregada por mais de 5 mil fazendas que, juntas, somam 3 milhões de hectares, em 22 Estados e alguns países da América Latina e da África. A agrotech gaúcha deu vida a um dos aplicativos de gestão rural mais utilizados do país. Agora, o cofundador e gerente de projetos na Aegro busca desbravar novas possibilidades dentro de um mercado promissor e que não para de crescer.
Como chegou até o agro?
Tenho certa ligação com o setor, por ser do interior de Farroupilha (RS) e ter família ligada à área, mas surgiu aos poucos. Com um curso técnico agrícola começo a me relacionar mais. Meus colegas de Ensino Médio, a maior parte, cursou agronomia. Eu fui para tecnologia, mas nunca perdi o contato. Desde então, sou muito próximo do agronegócio. Após a graduação, no mestrado, meus sócios e eu buscávamos algo para empreender. Queríamos construir uma empresa importante para o Estado e para o Brasil. O pai de um amigo (Valmir Menezes), era consultor de agronegócio. Em um churrasco da turma, esse amigo comentou que ele buscava um sistema de gestão para auxiliar os produtores rurais. Achamos interessante e começamos a entender os problemas e a demanda por dados estruturados nas fazendas para utilização de defensivos, produtividade, etc. Percebemos que o agronegócio era um caminho e resolvemos encarar. Nascia ali a Aegro.
Como foi essa construção?
A agricultura é complexa e estava muito distante da tecnologia. E eu tinha certa facilidade para conseguir fazer as conexões e os links necessários com a vida real no campo e o sistema em desenvolvimento. Mas tive que voltar a estudar para falar a língua do agronegócio, entender de safras, defensivos e outros elementos. Hoje em dia a minha vida é muito mais agricultura.
É mais “agro” do que “tech”?
Sim, muito mais. Quando engatinhávamos no mercado nacional, havia referências externas. À época, em 2015, o mercado de startups, não era tão aquecido por aqui e nos espelhamos mais nas empresas de fora. Houve um “boom” com agrotechs em todas as áreas. A pandemia demonstrou a resiliência e a relevância econômica do agronegócio. Agora, o produtor rural tem o desafio de avaliar e ver, entre tantas opções, o que realmente faz sentido para suas necessidades dentro das opções existentes.
Você imaginava unir tecnologia e agronegócio?
Entre 2006 e 2007, eu não imaginava que seria possível casar o curso técnico do Ensino Médio, que concluía com a paixão pela tecnologia e inovação. Nem quando sai da graduação em Ciências da Computação, pensei que estaria tão próximo do agronegócio. Aconteceu e considero excelente poder juntar dois conhecimentos que possuo e me permitem aproveitar o máximo de meu potencial. A linguagem do campo é peculiar. Nosso maior desafio foi construir um produto que não usamos. Diferente de um Spotify ou Netflix, por exemplo, em que quem faz os utiliza, no agro, construímos algo que não usamos, pois não temos fazendas. É imperativo estar próximo dos clientes.
Seu futuro está na Aegro?
Sim, passa pelo crescimento da Aegro. É um grande sonho meu e dos sócios. Nosso objetivo sempre foi causar impacto no agronegócio e trazer valor para os produtores. Temos consciência de que, apesar dos avanços, estamos no início dessa trajetória. Há muitos processos dentro da fazenda em que ainda podemos auxiliar os produtores. A gente atua forte na gestão, mas há outros setores que demandam soluções e queremos oferecê-las, em razão do grande volume de clientes que já alcançamos. Tem muito chão pela frente e o agronegócio necessita de tempo de maturação. É necessário seguir os ciclos das culturas. Temos duas safras por ano para testar e concluir soluções novas, então, diferente de outros mercados, precisamos ser assertivos e temos um ritmo mais lento de maturação. Vejo que há muitos desafios e tempo para realizar os nossos propósitos. Por isso, no futuro, me vejo, completamente dentro e, cada vez mais, envolvido com a Aegro.