A Associação Brasileira de Startups (Abstartups) mapeia 10,4 mil startups no país. Dessas, 952 estão registradas no Rio Grande do Sul, o que deixa o Estado na terceira colocação no ranking nacional, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais.
Das gaúchas, 33 encontram-se na chamada fase de scaleup, quando o negócio atingiu um modelo sustentável, com três anos consecutivos de crescimento e resultados rápidos. É uma espécie de antessala para se tornar um unicórnio (startups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão) ou dos IPOs (lançamento inicial de ações, na sigla em inglês). Significa maturidade à vista.
Entre elas, longe dos holofotes, porém com desempenho muito sólido para ser apenas mais uma promessa, está a gaúcha Rocket.Chat. Ela é considerada por quem acompanha o setor de perto, como o próprio Tito Gusmão, da Warren, uma das empresas prontas para decolar, ou melhor, alçar voos mais altos.
Trata-se de uma plataforma que possibilita a comunicação e a criação de chats, grupos e canais, facilitando a colaboração entre empresas, clientes e colaboradores. Por ser um sistema em open source, isto é, com o código fonte disponível para que outros programadores ajudem no desenvolvimento, a velocidade de evolução foi turbinada.
Criada em 2015 por Gabriel Engel para resolver problemas de comunicação interna e externa, uma das primeiras contribuições recebidas no código aberto veio do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Outra adepta é a Tokyo Electric Power (Tepco), a maior empresa do setor de energia no Japão, responsável, por exemplo, pela da Usina de Fukushima, com quase 40 mil usuários na Rocket. No portfólio, também estão Audi, Boeing e tantas outras marcas globais.
A versão gratuita é usada por 15 milhões de pessoas em todo o mundo. O modelo empresarial tem mil clientes, a maior parte deles internacionais: 40% nos Estados Unidos, 30% na Ásia, 20% na Europa e 10% na América Latina.
Quase 90% do faturamento anual também vem de fora. E, depois das rodadas de investimentos que captou US$ 7,9 milhões, em 2016 e 2019, a empresa conta com 140 funcionários de 30 países. É claro que o IPO paira cada vez mais próximo no horizonte da startup.
— A gente tenta não colocar uma data, mas queremos gerar impacto global. É uma missão difícil no Brasil, porque existe uma amarra mental. Em Israel, por exemplo, por ter um mercado menor, sempre que se pensa em criar algo, se faz para o mundo — comenta Gabriel Engel, fundador da Rocket.Chat.
Pelo menos outras duas startups gaúchas são apontadas por analistas como as bolas da vez. Debora Chagas, coordenadora estadual da Startups e Economia Digital do Sebrae-RS, edita, desde 2018, uma lista com as 15 promessas do ano e afirma que há muita coisa boa saindo do forno.
Nessa levada, está a TownSq, ferramenta online para agilizar processos e melhorar a comunicação em condomínios. Fundada em 2013, a startup possui 2,5 milhões de residências com o sistema instalado, em 14 mil condomínios nos Estados Unidos, no Brasil, no México e no Canadá.
De Dallas, nos Estados Unidos, onde vive, o jovem gaúcho João David comemora a presença massiva em mais de 8% do mercado imobiliário norte-americano.
— Não há pressa, estamos capitalizados e o objetivo é ganhar mercado. Temos muito chão para crescer — afirma ao lembrar que a meta é dobrar a base de condomínios ainda neste ano.
Ainda bastante focada no mercado interno, em um setor muito característico da economia gaúcha, a Aegro, fundada em 2014, atua em 22 Estados brasileiros, também no Paraguai, na Bolívia e em Angola. São 5 mil usuários de 4,7 mil fazendas que, juntas, somam 2,5 milhões de hectares.
O sócio-fundador, Pedro Dusso, afirma que a ideia é construir um negócio longevo. A solução partiu da base de dados do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), empacotados em um software que permite melhorar técnicas de manejo e oferece uma visão detalhada sobre a trajetória do dinheiro ao longo da safra, desde a compra de sementes até a venda da produção nas mais variadas culturas agrícolas.
Outras startups para ficar de olho em 2021
Indicações da coordenadora Estadual da Startups e Economia Digital do Sebrae-RS, Debora Chagas
Digifamz
- Plataforma digital formada por algoritmos e base de dados de mais de 16 anos de pesquisas, que combinados com informações de climas e satélites, considera a realidade de cada fazenda e apresenta recomendações personalizadas, reduzindo erros de manejo das culturas agrícolas. Tem clientes em todos os Estados agrícolas do Brasil e no Paraguai. O faturamento cresceu 3,5 vezes de 2019 para 2020, com previsão de faturamento cinco vezes maior em 2021 e mais de 1 milhão de hectares licenciados.
Anota Ai
- Única plataforma de atendente virtual com inteligência artificial no Brasil. Um robozinho consegue responder as principais dúvidas dos clientes e ainda fechar um pedido e imprimi-lo. Seja para automatizar o atendimento e “ganhar” o funcionário que estaria no caixa ou para migrar clientes de marketplaces, é uma opção para o setor de food service. Em 2020, cresceu 10 vezes o número de clientes e já é a maior plataforma de pedidos para delivery do Brasil, com mais de 3 mil clientes e 60 colaboradores.
Umbler
- É uma plataforma que liga empresas que querem ter sucesso na internet com agências digitais que sabem fazer isso. Assim como o Airbnb não possui imóveis próprios, a startup entende que a melhor forma de impactar milhões de empresas é qualificar e criar as melhores ferramentas. Possui 2,7 mil agências digitais parceiras, conta com 290 mil usuários na plataforma e teve crescimento anual de 52% na base de clientes. Está entre as maiores plataformas do Brasil.