Maior parceiro comercial do Brasil — e de outros 129 países —, a China está sob nova direção. Ou melhor, nova gestão, com presidente Xi Jinping emendando o terceiro mandato. E nessa nova etapa, as seguranças alimentar e energética são consideradas pilares da prosperidade pelos chineses, devendo servir de fio condutor nas políticas nacionais.
— Por um lado, o Brasil está em posição superimportante, por ser um dos pilares dessa segurança alimentar. Por outro, há pressão sobre Xi Jinping pela diversificação de fornecedores — pontua Larissa Wachholz, sócia da Vallya Agro e assessora especial do Ministério da Agricultura para assuntos relativos à China de 2019 a 2021.
A busca pela diversidade de fornecedores reflete não uma falta de confiança no Brasil — pelo contrário — mas, sim, um temor de dependência. A população vê na busca por diferentes fontes um fator de mitigação de riscos.
A China é, ao mesmo tempo, produtora (em diversos itens) e importadora. Em arroz, trigo e milho, observa Larissa, tem altos níveis de autossuficiência. Em outros, tem necessidade de complementar, principalmente na ração animal. E há o gargalo da proteína, sobretudo a bovina.
Para Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), a sinalização do governo chinês, reforçada pelo banco central do país, de que está engajado no crescimento econômico traz efeito direto:
— As exportações brasileiras patinaram, porque o crescimento econômico chinês patinou. Se for retomado, em 2023 devemos voltar aos níveis históricos.
No ano-safra encerrado, o volume total de soja importado pelos chineses caiu 9%. No atual ano-safra, deve crescer 8%, com o Brasil podendo ter expansão maior do que outros players — EUA tiveram colheita menor e problemas no Rio Mississippi.
Luz pondera que esse é o cenário-base, mas que a crise sanitária e a energética na Europa e na Ásia pode aumentar o apetite dos chineses por carne brasileira. Isso demandaria maior volume de soja no mercado doméstico, para a ração animal. Independentemente do produto, o economista entende que a boa notícia é a retomada chinesa.
— A posição do Brasil é de relativo conforto. Tem o elemento de risco, mas muitas oportunidades. A grande pergunta é: onde queremos estar nessa relação e o que fazemos para ir além? — questiona Larissa.
A pergunta reflete a demanda já detectada por itens como lácteos e frutas, por exemplo.