A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Sabe aqueles selos de inspeção grifados na embalagem de alguns alimentos no supermercado? Eles traduzem um extenso trabalho de análise de produtos de origem animal executado em várias frentes e esferas. No Rio Grande do Sul, o avanço do serviço se mistura com a trajetória profissional de Beatris Kuchenbecker, hoje servidora do Ministério da Agricultura e gestora do SISBI-POA, o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal.
Há 20 anos na autarquia, ela iniciou sua carreira na secretaria da Agricultura gaúcha e é uma das pioneiras na inspeção animal feita por médicos veterinários. Em entrevista à coluna, Beatris contou os caminhos que percorreu até chegar ao seu posto atual e falou da importância da inspeção para a saúde humana e para o desenvolvimento das regiões e das agroindústrias.
Como iniciou a sua carreira na profissão?
Desde criança, sempre quis ser veterinária. Me graduei na UFRGS e no início tinha impressão de que iria fazer clínica para cuidar de bichos, mas durante a faculdade me apaixonei pela área de produção animal e de alimentos e a função do veterinário relacionada à saúde humana. Fiz concurso da secretaria da Agricultura do Estado e fomos chamados para montar o serviço de inspeção estadual de produtos de origem animal, que praticamente não existia na forma como se conhece hoje e na época era uma atribuição da secretaria da Saúde.
Então a sua trajetória se mistura com a evolução da inspeção no Estado...
Exatamente, estão paralelas. Fiquei cinco anos na Secretaria e de fato montamos o serviço como ele está mais ou menos até hoje. Trabalhava com questões de análises laboratoriais, registro dos produtos, composição, rotulagem e a aprovação disso, que são as atividades inerentes à inspeção.
Como expandiu a sua atuação para uma inspeção de nível nacional?
Estou há quase 21 anos no Ministério da Agricultura. Comecei na bancada de laboratório analisando produtos como manteiga, queijo, presunto, carne, ovo, mel... ou seja, todos esses produtos que os nossos colegas, na ponta, estavam nas empresas inspecionando e acompanhando se o processo de produção estava adequado. O Ministério da Agricultura tem uma rede de laboratórios de referência e atualmente são seis no Brasil. Depois, fui inserida no Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura. É onde estou até hoje, só que agora exclusivamente para as atividades do SISBI-POA (Sistema de Inspeção de Produtos de Origem Animal).
É uma atividade de saúde pública. É o olho do consumidor no desenvolvimento daquele produto
BEATRIS KUCHENBECKER
Gestora do SISBI-POA
Como é sua rotina de trabalho?
No meu dia a dia, auxilio serviços de inspeção de municípios do Estado e de consórcios intermunicipais que buscam a equivalência ao SISBI-POA. É uma espécie de chancela que o Ministério da Agricultura dá para outros serviços de estados, municípios e consórcios de municípios quando esses desempenham suas atividades de inspeção equivalentes às do Ministério. No RS, hoje, temos 15 municípios equivalentes, dois consórcios e o próprio serviço de inspeção estadual.
O que ganham os serviços sendo equivalentes ao Ministério da Agricultura?
Ganham a autorização para que os estabelecimentos que são registrados nesses serviços possam comercializar os seus produtos no Brasil inteiro. Quando tu vais ao supermercado, vê os carimbos do SIF (Serviço de Inspeção Federal), do SISBI-POA e outros de inspeção municipal e estadual. Todo produto de origem animal precisa ter o carimbo de inspeção, que é o básico para ser comercializado no Brasil. O logotipo do SISBI-POA é uma informação extra no rótulo que indica, por exemplo, que produtos de Glorinha podem ser vendidos no Brasil inteiro.
Como vê a importância do serviço de inspeção para o consumidor?
Desde 1950, é instituído por lei que neste País não se pode consumir produto de origem animal sem inspeção. O que vemos na prática é que ainda existe muito produto sem inspeção. As pessoas consomem produtos que não têm garantia de que estão sendo produzidos atendendo a uma legislação que não é nem só nacional, mas mundial em relação à inocuidade alimentar. A importância disso é a tranquilidade de consumir um produto sabendo que ele está sendo acompanhando, fiscalizado e inspecionado por um serviço oficial. É uma atividade de saúde pública. É o olho do consumidor no desenvolvimento daquele produto.
Projetando o futuro, o que pode haver de evolução nesta área?
Estamos montando eventos para a Expointer falando de coisas bem diferentes que estão surgindo, como a produção de proteína não-animal. São muitas questões que precisamos começar a nos adaptar e pensar como desafio daqui para diante. Outro ponto que mudou muito se refere ao bem-estar animal, de trabalharmos cada vez mais dentro de uma lógica de produzir com o mínimo possível de dano ao animal. Já que ele vai ser fonte do alimento que vai chegar na nossa mesa, precisamos tratar com mais respeito tudo isso. É algo que tem evoluído bastante, com muita legislação específica. E, claro, cada vez mais ficar acessível ao nosso “cliente”, que é o consumidor brasileiro.