A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Mais de 15 milhões de brasileiros enfrentaram a falta de alimentos em casa entre 2019 e 2021. A parcela, que representa 7,3% da população do país, se enquadra na chamada insegurança alimentar grave, que é quando há privação no consumo e fome. No mundo todo, são mais de 700 milhões de pessoas nessa condição.
Os dados alarmantes fazem parte de relatório anual da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), divulgado nesta quarta-feira (6) e transmitido mundialmente. Os números mostram que a fome passou a atingir cerca de 150 milhões de pessoas a mais desde o início da pandemia no mundo.
No Brasil, o relatório também aponta que 61,3 milhões de brasileiros sofreram com insegurança alimentar moderada (quando há restrição de alimentos) ou grave entre 2019 e 2021 (28,9% da população). No período de 2014 a 2016, por exemplo, eram 37,5 milhões de pessoas (18,3%).
O estudo faz alertas para os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia. As simulações sugerem que o número global de pessoas subalimentadas em 2022 aumentaria em 7,6 milhões de pessoas em razão do conflito. Diante do risco, os representantes da FAO reforçam que é preciso atuar para evitar uma catástrofe, com ações políticas que garantam que grãos e insumos deixem os portos da Ucrânia, por exemplo.
Para Juliano de Sá, presidente do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Estado (Consea-RS), os dados apresentados reforçam o que a pesquisa brasileira já vinha alertando sobre o aumento da fome desde 2015.
— O relatório da FAO confirma o que já suspeitávamos e o que nunca havia acontecido na história: o Brasil é o primeiro e único país que saiu e voltou para o mapa do fome — diz Sá.
Na avaliação do Consea-RS, os números da FAO apontam a gravidade, mas estão aquém da realidade brasileira. No mês passado, pesquisa nacional feita pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) identificou mais de 33 milhões de pessoas que não tem o que comer no Brasil.
No Rio Grande do Sul, como já noticiou a coluna, medidas para atenuar a situação da fome estão sendo planejadas. As diretrizes serão apresentadas no fim do mês, entre os dias 27 e 28 de julho, na Assembleia Legislativa. Segundo o Consea-RS, 10% da população gaúcha não tem o que comer. A parcela está concentrada nas periferias urbanas e na agricultura familiar.
A entidade vai propor ao governo do Estado uma plano emergencial de licenciamento de apoio às cozinhas comunitárias e solidárias. Para viabilizar, a ideia é que seja decretado estado de emergência por conta da fome e que se escolha uma Organização da Sociedade Civil (OSC) para mapear as cozinhas e garantir os insumos para o funcionamento das mesmas.