A fome se alastrou no segundo ano de pandemia, atingindo inclusive os trabalhadores da agricultura familiar. Ao todo, 38% daqueles que trabalham para colocar alimento na mesa no país sofrem com isso, de acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado ontem. Para reduzir essa porcentagem no Estado, o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável (Consea-RS), em conjunto com o poder público e a sociedade civil, está elaborando diretrizes que serão apresentadas ao governador Ranolfo Vieira Júnior no Congresso Estadual de Soberania Alimentar e Nutricional Sustentável, entre os dias 27 e 28 de julho, na Assembleia Legislativa.
— Precisamos fazer algo. As ruas e as periferias já vinham dizendo para a gente, mas não imaginávamos que os números iriam ser tão violentos como esses. No caso do meio rural, que foi o mais afetado (60% dos domicílios), é preciso considerar ainda as perdas pela estiagem. Não adianta, as pessoas estão largando o campo por causa de cenários como esses — afirma Juliano de Sá, presidente do Consea-RS.
De acordo com a pesquisa, o problema já afeta 33,1 milhões de brasileiros — o que corresponde a 15% da população. Em um ano, cresceu 73,3%. Para a professora Silvia Zimmermann, uma das coordenadoras do estudo, esse cenário ocorre em razão do desmonte de políticas públicas, da piora na crise econômica e do aumento das desigualdades sociais. E, no caso dos pequenos produtores, para além da estiagem, outro fator que influenciou, segundo ela, foi a alta de preços dos alimentos, que não foi refletida na mesma proporção em termos de valoração da produção de alimentos entre os produtores.
Os dados do estudo foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, por meio de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e Distrito Federal.
*Colaborou Carolina Pastl