Em meio ao cenário de crise global de alimentos, tema que marcou sua participação na edição do Tá Na Mesa, nesta quarta-feira (29), na Federasul, o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Gedeão Pereira, falou sobre as potencialidades e as problemáticas do agronegócio brasileiro. No radar de atenção estão questões como as eleições, no segundo semestre, o mercado internacional e os custos de produção. Na esteira das oportunidades, citou o crescente (e gigante) apetite dos países asiáticos, com o Brasil no papel de garantidor da segurança alimentar do planeta.
— Vejo como um desastre qualquer tipo de taxação às exportações. Começaremos a lançar uma nova safra, e estamos frente a um novo panorama de custos da agricultura brasileira, muito violento — pontuou o dirigente, sobre eventuais medidas de restrição, destacando a vizinha Argentina como um exemplo a não ser seguido.
A coluna selecionou tópicos sobre o qual Pereira respondeu em relação a esses assuntos. Confira trechos:
De importador a exportador
A participação da agricultura brasileira no mercado global é muito recente, destacou o presidente da Federação da Agricultura do Estado, Gedeão Pereira, também vice-presidente de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Até a década de 70, a atividade produtiva estava focada na pecuária, com o país em uma condição de importador de alimentos. Foi a partir do desenvolvimento da produção agrícola que esse cenário começou a ser transformado.
— O que nos impressiona é que apenas em 1997 o Brasil começou a pisar no mercado internacional — lembrou Pereira, sobre as vendas externas de produtos que não a carne, em que já tinha participação.
E emendou:
— Estamos falando de uma história de 25 anos. Nesse período, o Brasil explodiu.
Restrições às exportações
Questionado sobre países voltando a restringir os embarques de produção agropecuária, com o argumento de garantir o abastecimento do mercado interno, o dirigente foi categórico: é um desastre "qualquer tipo de taxação às exportações", citando a Argentina como um exemplo dos efeitos nocivos que a medida traz:
— Qualquer tentativa de travar exportações pode colocar o produtor no prejuízo. E o significado disso é uma inflexão negativa na curva de produção de alimentos, o que termina tornando os alimentos mais caros para quem (o país que) proíbe. Hoje, temos uma situação em que os países exportadores líquidos de alimentos estão com os preços mais baixos para suas populações do que os importadores líquidos. Se taxarmos qualquer coisa, em última análise, quem paga é a própria população.
Pereira reforçou que o panorama de custos subiu de patamar, com vetores "que encarecem enormemente a agricultura"(uma referência ao aumento dos preços de máquinas, químicos e, principalmente, fertilizantes, além do óleo diesel). Nesse contexto, eventuais barreiras de acesso ao mercado externo preocupam.
Seguro rural
Considerado uma ferramenta de segurança para produtores diante dos recorrentes problemas climáticos — no Rio Grande do Sul, das últimas três safras de verão, duas tiveram perdas por estiagem —, o seguro rural está ameaçado pelo histórico recente (o assunto foi debatido nesta terça-feira em uma reunião da Comissão de Seguro Agrícola da Farsul). A discussão, observou o presidente da entidade, vem "justamente porque as seguradoras tiveram um prejuízo muito grande nos Estados do Sul", em razão da reincidência e abrangência dos prejuízos. Isso traz como efeito, explica, o aumento do custo indo a quantidade de produtos segurados.
— Se precisamos de um subsídio, realmente precisamos no seguro — disse Pereira.
Eleições
A disputa eleitoral a ser travada no segundo semestre é acompanhada de perto. Entre as preocupações apontadas pelo setor está a relacionada a movimentos que possam interferir nas exportações. Pereira voltou a afirmar que qualquer possibilidade de taxação será discutida:
— Porque o viés é negativo, para todo mundo.