Se já foi possível identificar em abril o impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia no agronegócio, em maio, os efeitos ficaram ainda mais evidentes — ampliando o peso no bolso do produtor brasileiro. Vindo de uma safra em que já havia pagado mais caro para produzir, agora vive um cenário de inflação em cima de inflação.
De acordo com o levantamento mensal feito pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul), em maio, os custos de produção tiveram nova alta, de 2,69% em comparação ao mesmo período de 2021. Para se ter uma ideia, no ano, chega a 10,39% e, no acumulado de 12 meses, a 44,67%. Fertilizantes e produtos químicos seguem puxando esse avanço das despesas.
Quem segue puxando a reta para cima são os fertilizantes e os agrotóxicos. A economista da Farsul Danielle Guimarães explica que esses insumos encareceram no Brasil por ao menos dois fatores: taxa de câmbio e incerteza de abastecimento gerada pelo conflito no Leste Europeu.
— O Brasil importa grande parte desses químicos, então qualquer variação acaba encarecendo os produtos e puxando lá para cima o custo da safra para o produtor. Além disso, antecipando um potencial estrago, o mercado acabou precificando essa incerteza — justifica.
Danielle chama atenção ainda para a inflação no preço dos alimentos nas gôndolas dos supermercados. Enquanto o índice de inflação de custos de produção cresceu 44,67% em 12 meses, o de preços recebidos pelo produtor e o de preços dos alimentos ao consumidor tiveram alta de apenas 7,31% e 13,51%, respectivamente. Em outras palavras: por mais que o público urbano sinta também o impacto dessa inflação, ela é muito maior para quem vive no campo — e do campo.
Vale lembrar ainda que não há perspectiva de reversão desse cenário, já que, até o momento, não há sinal de acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Além disso, o Brasil entra agora em um período eleitoral, onde o mundo passa a enxergar o país com incerteza, o que deve contribuir para a elevação da taxa de câmbio, projeta a economista.
*Colaborou Carolina Pastl