O mundo está de olho no que vai acontecer com o mercado de fertilizantes em razão do conflito Rússia-Ucrânia. Diante da incerteza sobre a duração da guerra e dos impactos das sanções econômicas, uma certeza aparece no horizonte dos países que são grandes produtores agrícolas.
— Os preços estão subindo — pontua Gary Schnitkey, professor da Universidade de Illinois e integrante do Farmdoc, grupo de economistas agrícolas do Meio-Oeste dos EUA.
Uma realidade que o produtor brasileiro conhece bem e que igualmente afeta o americano. A diferença está na proporção. Dados compilados pelo Farmdoc (veja acima) evidenciam a maior dependência do Brasil da importação do insumo, assim como grande participação da Rússia como fornecedor. Concentração que se mantém nos três nutrientes básicos: nitrogênio, fósforo e potássio.
— A situação dos fertilizantes nos Estados Unidos é provavelmente melhor do que será no Brasil e na Europa — reconhece o professor.
Ele avalia que a maior parte dos fertilizantes nitrogenados usada é produzida em solo americano, e que os preços do gás natural lá tendem a ser menores do que na Europa. Razões que deveriam fazer com que agricultores dos EUA aumentassem a produção de milho.
Coordenador do Farmdoc, Scott Irwin apresenta uma projeção que ele próprio classifica como "de uma minoria muito otimista": há potencial da área cultivada retomar patamares de 2014. Incertezas de mercado e custos altos, no entanto, poderão fazer com que os produtores usem muita cautela, não concretizando essa perspectiva.
Em relação aos fertilizantes, neste momento, o Brasil faz movimentos que buscam maior autonomia na produção interna e diversificação de fornecedores. É o caso do Canadá, onde a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, cumpriu agenda.
Schnitkey lembra, no entanto, que a cadeia de fornecedores está conectada e que redireciona-la "não é algo simples". Na última sexta, foi lançado o Plano Nacional de Fertilizantes. As duas iniciativas são consideradas importantes pelo setor e precisam ser concretizadas, independentemente da duração e do desfecho da guerra. Elas só não fazem milagre: no curto prazo, o mercado seguirá com oferta restrita e preços em alta.