A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Existe na cadeia produtiva de sementes uma figura essencial para que a qualidade da produção seja atestada como viável. É o amostrador de sementes, profissional que tem ganhado cada vez mais espaço nas propriedades. Seu papel no processo de avaliação é fundamental para que os resultados de pureza e germinação, por exemplo, estejam dentro de normativas determinadas pela legislação.
O engenheiro agrônomo Jonas Farias Pinto, doutor em sementes e gerente de certificação na Fundação Pró-Sementes, explica que, com base na amostragem, é possível retratar as características de todo um lote de sementes. A avaliação minuciosa é importante para viabilizar a comercialização. Se a análise não for representativa, é possível que haja perda econômica ao produtor. A Fundação Pró-Sementes, com sede em Passo Fundo, no Norte do Estado, é uma das instituições que capacita profissionais para atuarem nessa área, cujo mercado está aquecido.
– O papel desse profissional dentro do contexto da produção de sementes é fundamental – destaca Pinto.
Na entrevista abaixo, conheça mais sobre a atividade e o trabalho do amostrador:
O que faz um amostrador de sementes?
O amostrador de sementes é um profissional que é responsável por fazer a amostragem das sementes que vão para análise em laboratórios oficiais credenciados ao Ministério da Agricultura. Precisamos amostrar as sementes para saber se estão dentro de um padrão, e quem faz esse trabalho é o amostrador de sementes.
Por que esse processo é necessário?
Quando os lotes estão prontos, ou seja, a produção que o produtor fez e beneficiou, é preciso fazer uma amostragem para saber se esse lote está dentro dos padrões. Temos uma legislação que rege no Brasil a produção de sementes, e a produção e a comercialização estão baseadas nesses critérios. O amostrador precisa conhecer o que está fazendo, qual a intensidade de amostra que vai tomar, para que a amostra que vai chegar ao laboratório seja representativa do lote como um todo.
O que são esses padrões? O que é avaliado?
São, principalmente, a parte de germinação e também a de pureza e contaminantes. O lote precisa ter uma pureza mínima, sem partículas que podem ser torrões, palha... Existe uma pureza mínima para cada espécie, assim como também a germinação, que tem que ter um mínimo para ser comercializada. Também não pode ter outras impurezas, como plantas daninhas, plantas invasoras. É o que o laboratório vai avaliar para ver se está dentro de um padrão mínimo que foi determinado para aquela espécie, seja soja, milho, alguma aveia, enfim. Cada espécie tem seu padrão específico.
No caso de estar fora do padrão, o que isso inviabiliza?
O profissional amostra um lote e vai ter uma quantidade que geralmente é em torno de 1 quilo. Essa quantidade representa um lote que pode ser, por exemplo, de 30 toneladas. Se a amostragem não é aprovada em algum dos parâmetros estabelecidos, isso inviabiliza a comercialização. O produtor fica impossibilitado de comercializar aquele lote porque está abaixo do padrão mínimo necessário para ser vendido aos seus clientes. Por isso, o amostrador que faz esse processo tem de ter um treinamento específico para entender a responsabilidade dele no todo, qual técnica utilizar, os equipamentos corretos e todos os procedimentos que são determinados pelo Ministério da Agricultura e a legislação. Cada amostrador credenciado tem um número, que é chamado de Renasem (Registro Nacional de Sementes e Mudas). No resultado de cada análise consta o nome de quem foi o amostrador e o registro dele, até para depois poder se fazer uma rastreabilidade do processo.
As empresas necessitam e procuram pessoas que tenham a formação básica de amostrador para inserir na propriedade
JONAS FARIAS PINTO
Gerente de certificação na Fundação Pró-Sementes
Como começou a atuar nesse segmento?
Sou engenheiro agrônomo e tenho doutorado na área de sementes, então toda a minha formação desde a faculdade até hoje sempre foi trabalhada na área de sementes. Há 12 anos estou na Fundação Pró-Sementes, sou gerente da área de certificação, e promovemos cursos de capacitação, como o de formação de amostradores de sementes para ser credenciado ao Ministério da Agricultura.
O que é necessário para entrar nessa área?
Para se tornar um amostrador de sementes, a legislação não exige que se tenha alguma formação acadêmica. Mas, precisa passar por um curso de formação mínima de acordo com os requisitos do Ministério da Agricultura. E a Fundação Pró-Sementes está credenciada para dar esse tipo de treinamento aos profissionais que queiram se tornar amostradores, por exemplo.
Como se destacar na profissão?
Todo produtor de sementes precisa ter no seu quadro, seja como funcionários ou terceirizados, profissionais para fazerem as amostragens. Pode ser através do responsável técnico do produtor, mas muitas vezes a produção é muito grande e esse técnico não dá conta. Por isso se capacitam pessoas internas de dentro da empresa para realizar esse processo. Precisam ser profissionais que tenham atenção, responsabilidade, calma, e que consigam perceber muito bem os detalhes. Em cima daquela amostra, vai estar toda a decisão sobre o lote: se vai poder ser comercializado, se está bom. Se fizer uma amostragem mal feita, o resultado não vai ser condizente com o todo do lote, podendo gerar uma inviabilidade econômica e comercial. E o contrário também é verdadeiro. Se faço uma amostragem mal feita, posso estar mascarando o resultado, escondendo um lote que como um todo não tem qualidade, dando problema lá na frente e o produtor sendo penalizado. O papel desse profissional dentro do contexto da produção de sementes é fundamental.
Como é o mercado de trabalho para um amostrador de sementes?
É um mercado que sempre tem trabalho. As empresas necessitam e procuram pessoas que já tenham a formação básica de amostrador para inserir na propriedade, então acaba sendo um diferencial na hora de uma contratação nessa área da produção. Vejo que há uma demanda bastante grande. Tanto que nos últimos anos em que estivemos parados por conta da pandemia, a demanda continuou muito grande. Fizemos muitos treinamentos nas companhias para tentar suprir essa necessidade porque a rotatividade acontece nas empresas e faltam pessoas credenciadas e capacitadas para fazer essa função. No geral, o perfil é de pessoas mais jovens, que estão começando. É um trabalho um pouco bruto, exige força, então acaba que ainda prevalece a presença de homens, mas as mulheres estão cada vez mais entrando nessa área por serem mais cuidadosas e atenciosas, e isso é um grande diferencial. Sendo o Rio Grande do Sul um grande produtor de sementes, da pequena à grande empresa, há uma demanda bastante grande no mercado como um todo. O grande volume está nas produções de soja e de trigo, mas também nas forrageiras temperadas como aveia e azevém, que tem boa parcela de produção, principalmente no RS.