A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A SoluBio, uma startup gaúcha do agro, fez história ao despontar entre as premiadas do South Summit. A empresa foi escolhida a “Mais Sustentável” dentro da competição de startups promovida no evento. Criada há cinco anos em uma garagem de casa em Panambi, no noroeste do Rio Grande do Sul, a empresa apresentou na feira mundial de inovação a tecnologia que permite ao produtor rural fabricar o seu próprio bioinsumo.
A ideia deu tão certo que a empresa possui hoje uma das mais modernas fábricas de bioinsumos, 500 colaboradores e muitos planos para ir além. Maurício Schneider, cofundafor e CRO da SoluBio, diz que a participação no South Summit foi uma surpresa e que a premiação coroa o trabalho de impacto que a equipe vem desenvolvendo.
– É um passo muito importante para globalizarmos o nosso agronegócio, que tem sido tão maltratado e mal interpretado – comemora.
Na entrevista a seguir, Schneider fala dos frutos que já estão sendo colhidos a partir do evento e os planos de expansão que a startup desenha daqui para frente:
O que a SoluBio produz?
A SoluBio desenvolveu uma tecnologia para o agricultor produzir o seu próprio bioinsumo na fazenda. Como se fosse “o Nespresso do agronegócio”, ou seja, coloca a máquina, a cápsula e a assistência técnica, e o agricultor pode produzir o seu próprio bioinsumo. Com isso, há uma série de benefícios. O produtor consegue substituir os agrotóxicos e defensivos químicos pelo biológico e ainda economiza até 70% nessa troca.
Como surgiu a empresa?
A SoluBio nasceu em Panambi, no noroeste do Rio Grande do Sul. Somos cinco fundadores, quatro egressos da Universidade Federal de Santa Maria e um egresso do Instituto Federal Farroupilha de São Vicente do Sul. Todos tínhamos um contexto agrícola, com familiares agricultores, e fizemos uma spin-off (empresa que nasce a partir de outra) de uma consultoria de Panambi do nosso CEO, o Alber Guedes, que trabalhava com agricultura de precisão, projetos de financiamento, monitoramento de pragas etc. Em 2011, teve um surto de uma lagarta que não estavam conseguindo controlar, e aí ele conheceu esse projeto de produzir produto e insumo na fazenda. Só que naquela época se fazia numa caixa d’água, pegava produto comercial e misturava com açúcar... com o tempo ele viu que esse processo não era seguro, que os insumos não eram os melhores, que não tinha equipamento específico, e aí, em 2016, literalmente nos juntamos um fim de semana em uma garagem e se criou a SoluBio. Pensamos: vamos oferecer ao mercado uma solução que o agricultor possa produzir com segurança, qualidade, e que tenha eficiência agronômica. E foi como surgiu a Solubio e o que a gente chama de SoluBio Experience, porque somos a única empresa no mundo que vende uma solução ponta a ponta para a produção de bioinsumos. Oferecemos o serviço completo. Colocamos o equipamento em comodato e depois o cliente paga pelo litro produzido, ou seja, pela “cápsula do Nepresso”.
Qual o tamanho da SoluBio hoje?
A sede da empresa agora está em Goiás, por uma questão logística. Como temos que distribuir as cápsulas pelo Brasil todo, não fazia sentido produzir e distribuir a partir daqui porque só o custo logístico já seria um absurdo, fora toda emissão de carbono. Estamos atendendo, atualmente, 2,5 milhões de hectares e devemos encerrar o ano com 4 milhões de hectares. São 250 clientes, com previsão de fechar o ano em 400. Atendemos do Rio Grande do Sul a Roraima, com presença em todos os estados, e temos 500 colaboradores – 280 ficam na fábrica e outros espalhados pelo país. A fábrica fica em Jataí (GO) e tem 12 mil metros quadrados. É a planta de bioinsumos mais moderna do país.
A SoluBio foi uma das startups de destaque no South Summit. Como foi participar do evento?
Foi uma surpresa. Vínhamos acompanhando, mas não imaginávamos que ia ter essa dimensão. Vencemos a vertical Climatech e depois, na grande final, levamos o prêmio de startup Mais Sustentável. Somos acostumados a participar de eventos no mundo todo, mas foi o primeiro evento de agro que participei no país com os pitches (momento em que as startups apresentam seus negócios) todos em inglês, jurados do mundo todo, então fiquei super orgulhoso. É um passo muito importante para globalizarmos o nosso agronegócio, que tem sido tão maltratado e mal interpretado. Foi uma ótima chance para mostrar isso. E competição de startup sempre é uma oportunidade de evoluir porque se recebe feedback, tem que pensar numa forma de traduzir todo o modelo de negócio e falar em poucos minutos. Coroa todo o trabalho que temos feito.
Já tiveram algum retorno pós-feira?
Sim, várias conversas. Logo depois do primeiro pitch e depois com o resultado de que ganhamos a primeira etapa, conversamos com no mínimo quatro fundos que estavam lá. Para você ver o quão rápido foi, na quarta-feira apresentamos o pitch e ali um dos fundos nos chamou para conversar. Fizemos reunião na quinta-feira, ficaram super interessados e pediram para conhecer a fábrica. Nessa semana, eles foram para Jataí conhecer e já trocamos informações, assinamos termos de confidencialidade e estamos avançando em uma conversa. Fora toda a exposição que ajuda a mostrar o negócio. Abre muitas portas para investimentos e também para potenciais parcerias com outras startups para o co-desenvolvimento de soluções.
Quais os próximos passos ou planos da SoluBio?
Estamos expandindo em todas as verticais. Emitimos um CRA Verde no final do ano passado em R$ 100 milhões para a nossa expansão e estamos aplicando. Esse ano estamos crescendo quatro vezes e devemos atingir R$ 300 milhões de faturamento. Estamos investindo na expansão dentro do Brasil, na expansão internacional e estamos terminando de montar um centro de inovação e pesquisa em Brasília. Acabamos de investir em uma startup de metagenômica, que é uma análise biológica do solo e uma ferramenta super moderna para ajudar a definir melhor as recomendações e manejos para o agricultor na ponta, e acabamos de investir em uma joint-venture com uma startup indonésia que tem uma máquina que transforma lixo em carbono. Pela expansão internacional, estamos abrindo para Paraguai, Colômbia e Estados Unidos no segundo semestre.