A mineira Paula Araújo sempre soube o que queria fazer na vida: ser diplomata. Morou na França e nos Estados Unidos, para aprender idiomas. Com a mira na carreira planejada, buscou experiência no mundo corporativo durante a graduação em Administração com especialização em Comércio Exterior. Entrou grupo Fiat e, assim como a própria companhia, foi se transformando até perceber que tinha consolidado uma carreira. Hoje é líder da New Holland Construção para a América Latina, parte da CNHI, que tem a marcas New Holland e Case IH. E exerce toda a diplomacia para lidar com o time e com os clientes agro que cada vez mais buscam equipamentos de construção. Confira trechos da entrevista à coluna.
Você se imaginava como executiva de uma empresa global ?
Queria ser diplomata. Falo francês, espanhol, inglês. Morei na França, nos Estados Unidos, porque buscava isso. No início da faculdade, mexia com eventos, recepção bilíngue etc. No quarto período, pensei que estava na hora de procurar uma experiência corporativa. Dessa forma, ia aprendendo a lidar com a parte diplomática. Deixei meu currículo na Fiat (seria adquirida pela Case IH). Comecei com peça de exportação.
E como acabou no segmento de máquinas para construção?
Fui indo. Participei da mudança da marca global, em 2005, quando viramos a New Holland Construção. Passei por desenvolvimento de rede, inteligência de mercado, brand communication, brand marketing. Virei gerente de produto, de produto e marketing, mudei para Argentina. Voltei no olho do furacão, porque veio a pandemia. A história é essa. Estamos falando de 20 anos. Não fiz mestrado, porque no Brasil é muito voltado à área acadêmica, mas todo ano faço curso de atualização. Tive mentores e agora dou mentoria.
Quando percebeu que tinha “se encontrado” na profissão?
Não tinha desistido profissionalmente (da diplomacia), mas entrei na CNH com 22 anos, tinha tempo. Quando participei do projeto de mudança de marca, e apostaram em mim, me deram um projeto que roda o mundo inteiro... Fui para os EUA, implementei e está rodando até hoje. Tinha gostado muito do projeto, ganhei um certo respeito, confiança. E aí fui aprender de produto. Essa coisa de não ser comum talvez tenha me atraído mesmo.
Como vê a presença feminina nesse ambiente tão masculino?
São duas décadas (de trabalho), e eu não consigo enxergar, muitas vezes, essa diferença. Me formei profissionalmente no meio. Quando cheguei, era eu e 42 homens no departamento de peças, mas aquilo foi se tornando comum. Hoje, apesar de um bom equilíbrio, minha equipe ainda é masculina. Quando ativei meu Linkedin, realmente percebi que me tornei um pouco de espelho. Então, essa consciência do tipo “realmente é diferente, não é uma carreira tradicional, não é todo mundo que chega”, tive há pouco tempo. Mas em relação à competência, nunca fui questionada por ser mulher.
Que características se busca em profissional ligado ao agro?
Precisa ser transparente para trabalhar com pessoas que confiam em você. Não peço para ninguém nada que não faria. Tem que liderar pelo exemplo. E ter política, jogo de cintura, resiliência, principalmente sendo mulher. Claro que ouvi um monte de besteira ao longo desse tempo. Hoje, menos. Tenho história, fui preparada e não deixo de me atualizar.