No embalo da suspensão de vendas para a China, que se arrasta por mais de dois meses, os produtores de carne bovina dos Estados Unidos resolveram colocar mais uma pedra no sapato do Brasil. Diferentes entidades do setor vêm pressionando para que o Departamento de Agricultura americano (USDA, na sigla em inglês) interrompa as importações da proteína animal brasileira.
Entre os argumentos apresentados, o de que houve demora na comunicação dos dois casos atípicos da encefalopatia espongiforme bovina (doença popularmente conhecida como mal da vaca louca). A notificação foi feita pelo Ministério da Agricultura em 4 de setembro e, conforme os protocolos estabelecidos, imediatamente foram suspendidas as exportações para a China. A interrupção, que acreditava-se ser rápida, se arrasta até o momento.
O país asiático é o principal destino da carne bovina produzida no Brasil. É seguido por Hong Kong, região administrativa especial chinesa, e pelos Estados Unidos, que ocupam a terceira posição no ranking. E é aí que mora a preocupação com o movimento orquestrado pelos produtores locais americanos. Perder esse importante espaço seria mais um duro golpe.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) emitiu um comunicado em que repudia a conduta da Associação de Produtores de Carne dos Estados Unidos (NCBA), entidade que liderou o pedido ao USDA, posteriormente reforçado por outras adesões. Na nota, a CNA pontua que "em relação aos casos atípicos da vaca louca, o Brasil cumpriu todos os trâmites exigidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)", acrescentando que o país não recebeu nenhuma notificação do organismo internacional por "qualquer ação irregular cometida pelas autoridades sanitárias nacionais".
Destaca a posição brasileira de maior exportador mundial de carne bovina, com embarques do produto in natura para mais de cem países. Por fim, observa que que "ou a NCBA está desinformada ou adota a postura protecionista com viés econômico e sem nenhum caráter sanitário".
Não é de hoje que a entrada do produto brasileira in natura no território americano incomoda os pecuaristas locais. Em 2017, ano que ficou marcado pela Operação Carne Fraca, os Estados Unidos suspenderam as compras do Brasil. A medida veio após a identificação de em junho daquele ano, de abscessos causados pela aplicação da vacina contra a aftosa. E durou quase três anos.