Em meio ao primeiro ano da pandemia, o preço do arroz deu o que falar. A alta no item que entra na cesta básica dos brasileiros gerou inúmeros memes nas redes sociais e, apesar do assegurado abastecimento, fez com que o governo zerasse a tarifa de importação do produto. O objetivo era garantir a garantia de que o cereal não iria faltar. Neste momento, com a safra recém colhida disponível, o cenário é bem diferente. O valor pago ao produtor, conforme indicador do Cepea/Senar-RS, chegou nesta terça-feira (08) a R$ 76,67 a saca, o menor patamar nominal desde agosto do ano passado. Nas gôndolas, a pesquisa mensal da cesta básica, feita pelo Dieese, ainda mostra uma leve alta em maio (o,57%), mas um recuo de 0,93% no ano em Porto Alegre. Consumidores também relatam preços menores no produto.
— Deu uma reduzida, mas não no mesmo patamar que caiu para o produtor — avalia Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz).
O recuo nas cotações ao produtor vem ocorrendo desde 10 de maio, aponta o Cepea, e está associado à baixa demanda interna pelo produto, principalmente na "ponta final". Situação que reflete o contexto econômico no Brasil, com índice de desemprego elevado e poder de compra fragilizado. A análise acrescenta que, do lado da oferta, "muitos vendedores estão retraídos dos negócios, à espera de melhor remuneração".
Diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Arroz do RS (Sindarroz), Tiago Barata observa que não houve todo o incremento de consumo que se esperava. Houve uma alta na demanda até setembro do ano passado, com muita gente estocando o produto e passando a receber cestas básicas, explica. Depois, mudou o padrão. Com o pico de preço, as pessoas usaram as reservas que tinham ou passaram a buscar alternativas. Compradores do mercado externo também foram se retirando.
— O mercado está em uma inércia, aguardando um fato novo — acrescenta Barata.
Outro fator que tem influenciado no preço do arroz pago ao produtor é o ritmo fraco das exportações, que vem como reflexo da variação cambial. O dólar na casa dos R$ 5 deixa o produto brasileiro pouco competitivo no mercado internacional.
— A falta de exportação é o principal fator (da queda de preços). Perdemos, no mínimo, três navios que deveríamos ter exportado (com arroz). E, com a produção maior, o mercado leu que não faltará produto — observa o presidente da Federarroz.
Diretor comercial do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), João Batista Gomes também vê na dificuldade da exportação, com a valorização do real frente ao dólar, um importante fator entre os vários que vêm pressionando para baixo os preços.
Maior produtor nacional, o Rio Grande do Sul encerrou a safra de verão com novo recorde de produtividade, 9.010 quilos por hectare, apontam dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga). A produção somou 8,52 milhões de toneladas, acima do ano passado, mas não a maior da história, em razão da área cultivada, que vem encolhendo.