Numericamente, a safra de grãos 2020/2021 do Brasil ostenta um novo recorde à vista no país. Os levantamentos divulgados nesta terça-feira (10) apontam volume ainda maior do que o deste ano. Para o IBGE, que trouxe o primeiro prognóstico de colheita do ciclo agora semeado, as 253,2 milhões de toneladas representam alta de 0,5%. Para a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção é estimada em 268,9 milhões de toneladas, alta de 4,6 % em relação à já histórica marca atual. Como ainda há muita água para rolar — literalmente, é o que se espera, o retorno da chuva — esses dados mudarão inúmeras vezes até serem consolidados pela realidade do campo. Além disso, há sempre um espaço de tempo entre a coleta, a análise e a divulgação.
Indicativo de tendência, esses levantamentos precisam, neste momento, ser relativizados. Boa parte do otimismo com os resultados projetados está calçada na perspectiva de o Rio Grande do Sul ter uma recuperação, depois da quebra provocada no verão passado pela estiagem. O problema é que o cenário atual, de tempo seco e longo período com pouca ou nenhuma chuva, vai minando, dia após dia, essa possibilidade.
Lavouras de milho já contabilizam prejuízos significativos no noroeste — há lavouras com perdas de 70%. Na soja, o plantio também está em compasso de espera, porque a falta de umidade na largada impede o desenvolvimento adequado. Como os dados foram levantados, no caso da Conab, no final de outubro, ainda não refletem o efeito da ausência de chuva.
— Os números ainda são conservadores em relação à projeção de produção. A tendência é de diminuição em razão da estiagem — avalia Carlos Bestétti, superintendente regional da Conab no RS.
No caso do trigo, em fase de colheita, parte do impacto da geada registrada em agosto e da falta de precipitações no final do ciclo aparece na produtividade, com redução de 14,3% em relação à média obtida no ano passado, de 3 mil quilos por hectare. Em relação à expectativa do início da safra, a frustração é ainda maior. Com aumento de área de 26,4%, a aposta era em uma colheita mais farta. O alento vem da qualidade, considerada boa, e do mercado.
— É a úncia cultura em que o produtor está aproveitando os preços — diz Bestétti.
As projeções da Conab
Os números da segunda estimativa de safra
SOJA
- Produção: 19,96 milhões de toneladas (+74,4 %)
- Produtividade: 3.296 quilos por hectare (+70%)
MILHO
- Produção: 5,7 milhões de toneladas (+44,8%)
- Produtividade: 7.054 quilos por hectare (+41,8%)
ARROZ
- Produção: 7,6 milhões de toneladas (-3%)
- Produtividade: 7.875 quilos por hectare (-5,3%)
TRIGO
- Produção: 2,4 milhões de toneladas (+8,3%)
- Produtividade: 2.571 quilos por hectare (-14,3%)